Deportações em massa podem gerar déficit de mão de obra nos EUA; entenda

Deportações em massa podem gerar déficit de mão de obra nos EUA; entenda

Redação Alô Alô Bahia

redacao@aloalobahia.com

Agência Brasil

Reuters via CNN

Publicado em 30/01/2025 às 13:16 / Leia em 5 minutos

Durante sua campanha presidencial, Donald Trump prometeu conduzir “a maior operação doméstica de deportações da história americana”, removendo à força milhões de imigrantes ilegais até o fim de seu mandato.

Dados do Pew Research Center, divulgados em julho de 2022, estimam que cerca de 11 milhões de imigrantes não autorizados viviam nos Estados Unidos (EUA) naquele ano, compondo uma força de trabalho de 8,3 milhões de pessoas.

Os temores de que Trump pudesse concretizar suas promessas cresceram após as primeiras deportações em massa, ocorridas poucos dias após sua posse. Milhares de imigrantes foram detidos e enviados de volta a seus países de origem, incluindo México, Colômbia e Brasil.

Pesquisadores consultados pela Agência Brasil alertam que, caso Trump consiga efetivar a deportação em larga escala, os EUA enfrentarão um déficit significativo de mão de obra, com possíveis impactos devastadores na economia.

“Se a retórica de Trump se tornar realidade, o impacto para o cidadão comum será enorme. Muitas indústrias entrarão em colapso, especialmente a alimentícia, que depende fortemente de trabalhadores subempregados, incluindo imigrantes ilegais”, afirma Thaddeus Gregory, pesquisador do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

A professora Carla Beni, da Fundação Getulio Vargas (FGV), reforça que setores como o agrícola e o de laticínios seriam duramente afetados. “Boa parte da produção agrícola dos EUA é realizada por imigrantes indocumentados, que trabalham em condições que poucos americanos aceitariam, recebendo salários mais baixos devido à sua situação irregular”.

Gregory enfatiza que esses empregos estão disponíveis para qualquer americano, mas poucos aceitam trabalhar sob condições precárias, como colher tomates por 5 dólares por hora. “Como os empresários suprirão essa demanda massiva por mão de obra barata?”, questiona.

Outro setor que sofreria com a escassez de trabalhadores é o de serviços. “Pequenas empresas de jardinagem, por exemplo, dependem de mão de obra imigrante. Muitas dessas empresas são, ironicamente, administradas por apoiadores de Trump, que podem ser diretamente afetados pela política de deportação em massa”, destaca Gregory.

Além do impacto econômico, Roberto Moll, professor de História da América na Universidade Federal Fluminense (UFF), aponta que a deportação forçada pode elevar os custos trabalhistas e, consequentemente, a inflação. “Isso pode levar o Federal Reserve a aumentar as taxas de juros, afetando ainda mais a competitividade das empresas americanas”, explica.

O medo da deportação pode resultar em uma exploração ainda mais severa dos imigrantes que permanecerem no país. Com receio de denunciar abusos ou reivindicar melhores condições de trabalho, muitos aceitarão empregos ainda mais degradantes para evitar serem denunciados às autoridades migratórias. “Esses imigrantes, que já são uma reserva de mão de obra barata, podem acabar em condições ainda mais precárias”, alerta Rubens Duarte, coordenador do Laboratório de Análise Política Mundial (Labmundo).

Impacto Social

Os efeitos das deportações vão além da economia. Segundo o Pew Research Center, mais de 4,4 milhões de crianças e adolescentes nascidos nos EUA vivem com pelo menos um imigrante indocumentado. A separação forçada dessas famílias pode gerar impactos sociais profundos.

“Cerca de um quarto da população americana pode ser diretamente afetada por essas deportações, seja pela remoção de familiares, seja pelo medo constante de que isso aconteça”, observa Thaddeus Gregory.

Além disso, políticas de imigração rígidas podem desmantelar o tecido social americano, estimulando a desconfiança e a delação de imigrantes. “A estratégia de Trump incentiva a denúncia de vizinhos e conhecidos, gerando um clima de paranoia e medo”, acrescenta Carla Beni.

Rubens Duarte aponta a contradição dessa política, uma vez que os Estados Unidos são uma nação construída por imigrantes. Dados do Pew Research Center indicam que, em 2022, aproximadamente 48 milhões de estrangeiros viviam nos EUA, sendo 77% em situação legal. O censo de 2022 revelou que apenas 1,3% da população americana pertence a povos originários, o que significa que mais de 98% dos habitantes são imigrantes ou descendentes diretos.

“O país que se orgulha de seu caldeirão cultural e étnico agora expulsa aqueles que ajudaram a construí-lo. Essa postura terá consequências profundas na identidade dos americanos e em como o mundo os enxerga”, afirma Duarte.

Trump e o Futuro das Políticas Imigratórias

Especialistas afirmam que ainda é incerto se Trump realmente cumprirá suas promessas de deportação em massa. “Tudo dependerá de como sua retórica será transformada em ação. Embora suas declarações sejam extremas, ainda não sabemos se haverá um aumento significativo nas deportações”, pondera Thaddeus Gregory.

Roberto Moll destaca que o impacto econômico e social dessas políticas será decisivo para sua continuidade. Caso as deportações causem prejuízos às empresas, os empresários podem pressionar Trump a reconsiderar suas ações.

Por outro lado, a repressão aos imigrantes pode fortalecer setores ligados à segurança e precarizar ainda mais o mercado de trabalho, reduzindo o custo da mão de obra.

“Independentemente do desfecho, Trump reforça sua narrativa de combate à imigração para agradar sua base eleitoral, composta principalmente por trabalhadores brancos empobrecidos. O discurso xenófobo se mantém como um pilar central da identidade política trumpista”, conclui Moll.

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