Com direção do baiano Antônio Pitanga, o longa-metragem “Malês” estará, no final do mês de fevereiro, na programação do Festival Pan-Africano de Cinema, que acontece em Burkina Faso. É a primeira vez que uma ficção brasileira foi selecionada para o principal evento de audiovisual do continente africano. Já no cinema, a estreia está prevista para o dia 10 de abril.
“O meu sonho era trazer à baila essa história que a escola não conta. E humanizá-la de tal maneira para poder interagir com o século 21. Concluída a obra, o meu sonho agora é ir para banca dos saberes, escolas, para as universidades, os quilombos. E já está acontecendo. Nós recebemos telegrama de três universidades americanas nos convidando e fomos lá para Princetown, para a Pensilvânia e para Harvard”, conta Pitanga. “O meu filme não pode ficar só nas salas de cinema frequentadas por brancos de classe média. Eles também vão ver. Mas esse filme precisa chegar às escolas, à favela e ao quilombo”, acrescenta.
A obra, que teve como principal referência o livro Rebelião Escrava no Brasil, do historiador João José dos Reis, trata sobre a mais importante rebelião urbana de escravizados do Brasil. A preparação do figurino e a caracterização dos personagens demandaram estudo aprofundado. Além disso, os atores fizeram aulas de árabe, já que há diversas cenas em que o idioma é usado.
De acordo com o diretor, o filme dá espaço para que os personagens revelem suas individualidades: seus sonhos, suas tristezas, seus amores. Houve também a preocupação de fugir do estereótipo do escravizado enquanto vítima passiva. “São cabeças pensantes”, afirma.
O elenco conta com a presença de nomes como Rocco Pitanga, Camila Pitanga, Patrícia Pillar e mais. “Estou hoje com 44 anos e comecei a atuar com 20 anos. Normalmente. quando eu encontrava um colega negro em um teste, eu já sabia que era só um de nós que ia ser escolhido para fazer o personagem negro. E, de repente, estamos vendo surgir filmes aonde é possível ver vários atores interpretando personagens com as suas individualidades. Filmes que exploram os sonhos e a jornada de cada um”, avalia Rocco.
Descendente de negros escravizados, Antônio Pitanga conta que um dos principais desafios foi mediar os sentimentos e reduzir as cenas de violência explícita. “Eu precisava fazer essa história. É a minha contribuição à vida artística, à cultura, à minha cidadania. Havia uma necessidade muito grande de não trazer a raiva e o ódio e sim jogar luz sobre a própria história que o Brasil não conta”, revela. Antes das filmagens, ele conversou com cada integrante do elenco sobre o que era a Revolta dos Malês.