Cerca de 3,4 milhões de turistas devem passar pela capital baiana durante o verão de 2025, o que representa um aumento de 9% em comparação ao último, quando 3,1 milhões estiveram na cidade. Os dados da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult) evidenciam o óbvio: Salvador está cada vez mais na moda.
A cada ano, a cidade fica mais cheia durante a alta estação. Numa quinta à noite, por exemplo, é difícil achar mesa disponível no Boteco do França, no Rio Vermelho. Na Barra, é possível achar gente andando de patinete elétrico às tantas da noite.
O que está por trás desse sucesso? Uma junção de fatores. Desde a própria posição geográfica da cidade à diversidade cultural. Da recepção do soteropolitano à rica gastronomia ancestral. Dos ritmos musicais às tradições religiosas. Sem contar com o Carnaval. Tudo parece contribuir para a consolidação da cidade como um dos destinos turísticos mais procurados do país. A receita turística esperada para esse período, que será calculada entre dezembro de 2024 e março de 2025, é de R$ 7,1 bilhões. O número é 10% maior do que o mesmo período do ano anterior, quando chegou a R$ 6,4 bilhões.
É a mistura de Salvador, aliás, que cativou o carioca Rodolfo Araújo, 41 anos. A cidade é destino certo no verão do empreendedor desde 2012, quando marcou uma viagem para a Praia do Forte, na Região Metropolitana, mas foi seduzido pelo Carnaval. No entanto, a festa momesca é apenas mais um dos atrativos da capital.
“Estar em Salvador é ter uma recepção calorosa, ter toda uma questão cultural e muita religiosa. É o Senhor do Bonfim. Eu espero o ano todo para estar ali (na Colina Sagrada), agradecendo e solicitando para que possa retornar”, diz o carioca, que já trouxe mais de 50 amigos para Salvador nos últimos 13 verões.
Quem é soteropolitano enche a boca para elogiar a cidade. Iuri Barreto, criador do @soteropobretano, perfil que publica dicas para curtir a cidade e acumula 329 mil de seguidores no Instagram, não hesita ao explicar o porquê a cidade é tão desejada. “Algumas cidades têm o melhor banho de mar, outras têm um Centro Histórico preservado, ou são famosas pela gastronomia, ou pelo circuito cultural ou pelas festas de Verão. Já Salvador tem tudo isso reunido em um só lugar”, pontua.
O último levantamento da Skyscanner, uma das maiores plataformas de busca de viagens do mundo, apontou que Salvador foi o destino mais procurado por brasileiros em 2024. Ao todo, foram cerca de 11,6 bilhões de buscas no âmbito nacional e 1,4 milhão de buscas internacionais. Portugueses, italianos, espanhóis, alemães e argentinos lideram a lista de pesquisa.
“Com os novos voos internacionais, a gente tem observado um crescimento de turistas chegando pela Air France, que não necessariamente são franceses. Os europeus, em geral, são os que mais marcam presença em Salvador”, explica Walter Pinto, secretário em exercício da Secult. O primeiro voo da Air France vindo de Paris aconteceu em outubro de 2024. A operação foi implantada com o objetivo de atrair novos players e impulsionar o turismo no estado. No âmbito nacional, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro são os estados que mais exportam turistas para Salvador.
Economia pulsa
A movimentação intensa na cidade mexe com toda a cadeia produtiva. “A gente está falando de hotéis, restaurantes, mas também dos motoristas por aplicativos, taxistas e o comércio informal, além dos nossos equipamentos culturais”, diz Walter Pinto.
O faturamento dos ambulantes é dobrado em comparação ao inverno, segundo o presidente da Associação de Ambulantes de Salvador, Mário Lopes. “Os eventos que têm ocorrido ajudam muito. É o momento em que os ambulantes fazem um fluxo de caixa para pagar, às vezes, as dívidas criadas ao longo do ano, as matrículas dos filhos… É um momento positivo”, afirma. Há também um aumento de 10% no número de trabalhadores nessa época.
Em dezembro de 2024, mês que marca o início do verão, a taxa de ocupação hoteleira foi de 66,63%, cerca de três pontos percentuais em comparação ao mesmo período do ano anterior (63,81%). A ocupação na primeira quinzena de janeiro deste ano é de 74%. No mesmo período de 2024, a ocupação foi de 73,6%. Os dados são da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, Seção Bahia – ABIH-BA.
Os hotéis de lazer tiveram melhor desempenho do que os corporativos em dezembro, com destaque para o polo de Itapuã-Stella Maris (77,71% de ocupação), seguido por Barra-Ondina (76,31%) e Pituba-Tancredo Neves (58,59%).
O presidente da ABIH-BA, Wilson Spagnol, destaca ainda que o verão é responsável pelo crescimento de empregos temporários. “A hotelaria é um segmento altamente empregador, pois funciona em três turnos, absorvendo mão de obra de diferentes qualificações. Precisamos enfrentar os desafios ainda não solucionados, sobretudo na baixa estação que começa logo após o verão, para que essa mão de obra temporária possa ser efetivada”, ressalta Spagnol. A Associação de Bares e Restaures Seção Bahia (Abrasel-BA) também foi procurada, mas não havia respondido até a publicação desta matéria.
Para a Secult, o desenvolvimento do turismo na capital baiana é resultado de estudos e ações de fomento. Entre elas está a participação nas feiras nacionais e internacionais de apresentação de destinos. “Salvador reúne belezas naturais, equipamentos culturais, cultura muito pujante. Tudo isso é apresentado nessas feiras, onde há um diálogo direto com as operadoras de viagem”, explica Walter Pinto.
Ao todo, os equipamentos culturais receberam, entre 1º e 19 de janeiro de 2025, 22,8 mil visitantes. O levantamento inclui os visitantes da Casa do Carnaval da Bahia, Cidade da Música da Bahia, Casa do Rio Vermelho, Espaço Carybé das Artes, Espaço Pierre Verger da Fotografia Baiana e Memorial 2 de Julho.
Para 2025, a prefeitura de Salvador, por meio da Secult, implementará os chamados roadshows, reuniões com operadoras de viagem, guias turísticos e jornalistas de outros locais para disseminar experiências na capital. “Salvador precisa ser vivida, sentida. Nós estamos falando de sensações, que vão desde o paladar, a sonoridade, além da vivência de religiões de matriz africana. Não estamos falando de comercialização do sagrado, mas experiência do contato e até desmitificação dessas religiões”, conclui Walter. A previsão é de seja implantado neste primeiro trimestre.