Em ato realizado nesta quarta-feira (8) no Palácio do Planalto, 21 obras restauradas após o 8 de janeiro retornaram oficialmente ao acervo da Presidência da República – incluindo um relógio pêndulo do século 18, trazido ao Brasil por Dom João VI, e um quadro do artista Di Cavalcante.
“A preservação desse legado que une cultura, história e democracia é responsabilidade de todos. A memória é um dos alicerces mais importantes da nossa identidade enquanto brasileiros. Sua preservação não é a apenas uma homenagem ao passado, mas também um compromisso com o futuro”, destacou a primeira-dama Janja da Silva, durante a cerimônia.
“O restauro das obras de arte do palácio é a parte desse esforço comum com a nossa democracia. Não conseguiram impedir a liberdade nem destruir a beleza. Contra a violência e cinza do autoritarismo, fazemos brotar o colorido da nossa cultura e a alegria do nosso povo”, declarou.
A restauração das peças, segundo Janja, contou com a colaboração do governo da Suíça e da embaixada da Suíça no Brasil, do Ministério da Cultura por meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e da Universidade Federal de Pelotas e fez parte de uma programação de atos em memória dos episódios de 8 de janeiro de 2023.
Ao g1, a professora Andrea Bachettini, que coordenou o processo de restauração, contou que o trabalho, que contou com cerca de 50 especialistas, precisou ser todo feito sem retirar as obras de Brasília – com exceção do relógio, que precisou ser recuperado na Suíça -, e levou mais de um ano e meio para ser finalizado.
No processo de restauro, as obras passaram por exames de raio-x, raios ultravioleta, infravermelho, além de análises dos tipos de tecido e pigmentos usados originalmente pelos artistas. Entre as obras restauradas, está uma tela de Di Cavalcanti, conhecida como “As Mulatas” (nunca oficialmente batizada pelo autor), de 1962. A tela foi rasgada por vândalos em sete pontos com um objeto cortante.
“Como é uma obra de grande valor econômico e importantíssima para a história da arte, optamos que o restauro ficasse imperceptível pela frente, mas colocamos um poliéster transparente na parte de trás, para que ficassem expostas as marcas que ela sofreu. Optamos por não esconder as cicatrizes“, explica Andrea.
Outras obras precisaram passar por intervenções mais profundas, como um vaso italiano de cerâmica rompido em 180 pedaços. “Colamos peça por peça, imitamos a pintura como a original e precisamos fazer um molde para alças do vaso, que tinha partes faltando”, explicou a especialista.