No Dia Nacional do Forró, nesta sexta-feira (13), a morte de um forrozeiro apaixonado: o músico baiano Thiago Kalu, de 39 anos, vocalista da banda Forró da Gota, faleceu em Salvador, semanas após receber alta do hospital onde estava internado por conta de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) isquêmico decorrente de uma trombose.
Kalu estava em casa quando passou mal e acabou morrendo antes de receber socorro. A causa da morte será definida pela perícia e ainda não se sabe se foi alguma consequência do AVC. “Ninguém sabe direito ainda o que foi”, diz Alexandre Espinheira, responsável pela zabumba e voz no grupo de forró. “Ele estava em casa já tinha umas duas ou três semanas”.
O amigo diz que Kalu estava iniciando bem sua recuperação. “Estava indo bem, fazendo fono, fisioterapia, tudo tranquilo. Estava todo mundo pensando que era só pra frente agora”, diz.
O sentimento é ecoado por outro amigo, o jornalista e músico Ivan Marques. “Todo mundo achava que o pior já tinha passado”, afirma. “Quando ele teve o AVC foram uma semana, dez dias, muito tensos (…), sem saber o que ia acontecer, se ia ficar com sequelas. Depois que ele saiu, dentro do próprio HGE ele teve uma evolução boa, acima do esperado. Todo mundo que ia ver ele voltava com esperanças. A gente já tratava como se não houvesse mais risco. Estava todo mundo já pensando na recuperação, já trabalhando para isso”, lembra o amigo.
Ivan conta que os amigos se uniram para ajudar na recuperação de Kalu e o foco agora era esse. “O fisioterapeuta disse que desde que ele voltou para casa já começou a andar sozinho, mas tinha questão complicada no braço direito e na visão. Essa semana inclusive a noiva dele conseguiu inscrever ele no (hospital) Sara”, conta. “Estava todo mundo muito esperançoso. Então realmente foi uma surpresa para todo mundo o que aconteceu”, lamenta.
Kalu é lembrado como alguém gregário, que unia amigos e sempre estava cercado pela música. “Uma pessoa muito intensa e inquieta nos projetos”, conta Ivan. “Sempre foi um cara ligado a música, teve banda de samba, trabalho autoral mais de MPB, e tocando projetos paralelos de forró. E acabou que o Forró da Gota se tornou o projeto principal dele. Fez muita coisa durante a pandemia em casa. Culturalmente sempre foi um cara que demonstrou muito talento como compositor, como letrista, como cantor. Sempre foi um orgulho muito grande para gente. Todos nós somos um pouco músicos, a música tem uma simbologia importante nas nossas relações de amizade como um todo, e ele sempre foi talvez a maior expressão dessa simbologia que une os amigos”. avalia.
Nas redes sociais, amigos e admiradores também prestaram homenagens a Kalu. “Que Deus conforte a família desse guerreiro“, escreveu um forrozeiro. “Vá em paz irmão”.
Ainda não há informações sobre o velório de Kalu. O artista deixa noiva e um filho de 7 anos.
AVC
O artista sofreu um AVC esse ano e amigos se uniram para fazer uma vaquinha solidária e ajudar nos custos do tratamento para recuperação. Mais de R$ 32 mil chegaram a ser arrecadados só pelo site – eles ainda recebiam contribuições via Pix. O AVC afetou áreas essenciais do cérebro, comprometendo fala, expressão e mobilidade de Kalu.
O valor arrecadado seria destinado às despesas médicas e de reabilitação, incluindo fisioterapia motora, sessões de fonoaudiologia para recuperar a fala, consultas neurológicas, medicamentos contínuos, além dos custos diários de cuidador e sustento familiar.
Vida na arte
Kalu tem raízes na música e na poesia nordestina. Sempre ligado à arte, fez parte de grupos de destaque na cena local de Salvador, como Clube da Malandragem e Pirigulino Babilake. A última banda que esteve à frente foi a Forró da Gota, na qual misturava xote, baião e xaxado com influências mais urbanas. As letras traziam mensagens de amor e das complexidades do mundo atual.