Recluso após o diagnóstico de demência frontotemporal, o jornalista Maurício Kubrusly e sua esposa, a arquiteta Beatriz Goulart, vivem há dois anos em Serra Grande, no Sul da Bahia. Ela explica que a escolha para se mudar foi motivada pela precariedade no Centro de São Paulo, onde viviam.
Com o avanço da demência, o jornalista ficava cada vez mais impressionado com as pessoas que moravam nas ruas. Ele distribuía comida a todos. No início, ele resistiu à mudança, mas depois se acostumou, revela a esposa.
“No começo, ele não gostou. Falava: “Por que você não me trouxe para esse fim de mundo? Aqui não tem ninguém. Aqui não é a Bahia nada, só tem gente loira”. Depois, quando a gente começou a passear por outros bairros, mais populares, ele foi gostando. Mas ele já desligou de saber onde está. Antes, a gente andava quilômetros, agora caminhamos uns 500 metros, porque ele se cansa”, contou, em entrevista ao jornal O Globo.
Maurício e Beatriz se conheceram em um site de relacionamentos e estão juntos há mais de 20 anos. Eles moravam juntos no Centro de São Paulo. Os sinais da demência apareceram em 2016, mas inicialmente ele foi diagnosticado como Alzheimer. Só há dois anos, os médicos identificaram a demência frontotemporal.
O documentário “Kubrusly: mistério sempre há de pintar por aí”, que conta a história do jornalista, teve uma exibição especial na abertura da 11ª Mostra de Cinema de Gostoso, no Rio Grande do Norte, na última sexta-feira (22). Kubrusly foi aplaudido de pé pelo público.
O filme conta a trajetória do jornalista até o diagnóstico da demência. Atualmente, ele só reconhece a esposa e já perdeu a capacidade de escrita e leitura. Beatriz revelou que durante a exibição ele a abraçou forte. “A gente não sabe falar sobre demência, não sabe falar sobre a morte, tem vergonha, diz que é para preservar a privacidade das pessoas. Mas eu só penso naquela pichação que fizeram na Rio-92 quando o cacique Raoni e Sting se encontraram: “Ou a gente se Raoni ou a gente se Sting”.
As informações são do jornal O Globo