O ator e apresentador Felipe Velozo veio a Salvador, sua cidade natal, gravar um dos episódios da “Potências Pretas”, série do Jornal da Manhã, da TV Bahia/Globo, exibida em novembro, mês da Consciência Negra. No programa desta sexta-feira (22), o baiano apresentou a metodologia da “afrobetização”, iniciativa desenvolvida em uma escola no Bairro da Paz, na capital baiana.
Felipe, que ficou conhecido nacionalmente após dar vida a Tomás, na novela Mar do Sertão, tem se destacado também como apresentador da TV Globo, gravando quadros para a programação da emissora carioca, entre eles o Glô na Rua, no Carnaval. O ator veio a Salvador reencontrar seu amigo de infância Gabas Machado, professor e escritor que está revolucionando a educação da cidade.
Ativista da educação para o “akilombamento”, Gabas desenvolve o projeto de afrobetização em parceria com a coordenação e direção pedagógica da Escola Municipal Nossa Senhora da Paz, que tem 857 alunos matriculados no Ensino Fundamental e na Educação de Jovens Adultos.
“Busco transformar a sala de aula num quilombo, trabalhando a afrobetização com o alfabeto ‘afrobetizador’, que é uma forma das crianças se interessarem pelo processo do letramento, a partir da sua cultura, do seu berço histórico. Não adianta a gente fazer uma educação simplesmente com a técnica, sem trabalhar o pertencimento. É preciso que elas queiram mais do que o professor e estimulamos isso trazendo heróis e heroínas da pele preta pra elas saberem que são os heróis e heroínas da pele preta do presente”, explica o professor, que é um dos autores do livro “Pretinhos e Pretinhas Incríveis”, lançado pela Themba Editora.
Segundo ele, a afrobetização é uma forma de materializar o conhecimento através de ações diárias, em um projeto que seja realizado com as crianças ao longo do ano, não apenas em uma data como o 20 de novembro. “Mostramos pra nossas crianças nosso lugar como um povo potente. Não podemos acreditar que, em 2024, nossa história começa na escravidão. Isso é um erro total e estamos aqui pra fazer isso mudar”, destaca Gabas.
A afrobetização é uma forma de alfabetizar crianças na negritude, estimulando-as a falarem sobre suas vidas com mais carinho e menos agressividade, em uma prática docente que não seja fria, mecânica e mentirosamente neutra.
“O fundamento disso tudo é sempre pensar naquilo que seus ancestrais fariam. Começo o dia com o ritual de aquilombamento, com o livro de provérbios de Mãe Stella de Oxóssi. Uma criança assopra e o provérbio que cair a gente escreve no quadro e reflete”, explica Gabas, que vê a afrobetização como uma forma de romper barreiras e dar voz a sujeitos quase sempre invisibilizados.