A trajetória de Fernanda Torres pode estar prestes a ganhar um marco histórico. A atriz está em Los Angeles promovendo “Ainda Estou Aqui”, drama de Walter Salles escolhido para representar o Brasil na corrida pelo Oscar de Melhor Filme Internacional em 2025. O filme, aclamado desde sua estreia no Festival de Veneza, vem sendo cotado para outras categorias na premiação, incluindo Melhor Atriz para Torres. Caso indicada, ela repetirá o feito de sua mãe, Fernanda Montenegro, indicada ao mesmo prêmio há 25 anos por “Central do Brasil”, também dirigido por Salles.
Em sua campanha internacional, Torres participou recentemente do Governors Awards, evento organizado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que presta homenagens a profissionais da indústria do cinema. A presença da atriz no evento gerou burburinho entre críticos e fãs brasileiros, que lotaram as redes sociais da Academia pedindo a indicação. “Vai fazendo campanha, Academia, vai fazendo”, brincou um internauta em um dos comentários.
Segundo Scott Feinberg, colunista do The Hollywood Reporter e especialista em previsões para o Oscar, a brasileira está entre as principais apostas para a categoria de Melhor Atriz, atualmente ocupando a sexta posição. Embora a lista final conte com apenas cinco nomes, o avanço constante da atriz nas previsões tem gerado otimismo entre os críticos e o público. Feinberg também aponta que “Ainda Estou Aqui” tem chances reais em categorias como Melhor Filme, Melhor Direção para Walter Salles e Melhor Roteiro Adaptado.
O legado de Fernanda Montenegro no Oscar
A possível indicação de Fernanda Torres inevitavelmente remete à histórica nomeação de Fernanda Montenegro ao Oscar em 1999, por sua atuação como Dora em “Central do Brasil”. Na época, Montenegro foi a primeira e, até hoje, única atriz brasileira indicada ao prêmio de Melhor Atriz. Sua performance foi aclamada internacionalmente, e a indicação consolidou o nome da atriz e do cinema brasileiro no cenário mundial.
Naquela cerimônia, Montenegro disputou a estatueta ao lado de Cate Blanchett (“Elizabeth”), Meryl Streep (“Um Amor Verdadeiro”), Emily Watson (“Hilary e Jackie”) e Gwyneth Paltrow (“Shakespeare Apaixonado”), que acabou levando o prêmio. A derrota de Montenegro gerou debates acalorados, tanto na época quanto nos anos seguintes. Em uma entrevista ao programa “Milênio”, da Globonews, em 2018, Montenegro falou sobre a experiência:
“Era impossível levar aquele prêmio. Imagina. Meryl Streep perdeu. A [Cate] Blanchett no seu auge, fez duas Elizabeths extraordinárias… Como eu ia pensar em ganhar alguma coisa? Fiquei lá, foi interessante, importante. Não é que não é importante, não estou jogando fora e nem menosprezando, pelo amor de Deus. É uma experiência humana e, dentro da nossa área, espantosamente interessante de ver”
Fernanda também destacou a força das campanhas pré-Oscar e como elas influenciam o resultado. “Vale muito aquele prêmio nos Estados Unidos. É uma coisa extremamente americana, com repercussão no mundo. Lá, ninguém tem problema de fazer lobby”, explicou.
O resultado daquela cerimônia também foi questionado por outras estrelas, como Glenn Close. Em 2020, a atriz americana mencionou o episódio durante uma entrevista: “Eu lembro aquele ano em que Gwyneth Paltrow ganhou daquela atriz incrível de ‘Central do Brasil’. Eu pensei: ‘O quê? Isso não faz sentido’”.
Uma nova esperança para o Brasil no Oscar
A performance de Fernanda Torres em “Ainda Estou Aqui” foi descrita como “poderosa” e “profundamente tocante” por críticos internacionais. No longa, a atriz interpreta Eunice Paiva, uma mulher que se transforma em uma das mais importantes ativistas dos direitos humanos no Brasil após o desaparecimento de seu marido, Rubens Paiva (vivido por Selton Mello), durante a ditadura militar.
Caso receba a indicação, Torres e Montenegro se tornarão a primeira dupla de mãe e filha brasileiras a serem reconhecidas pelo Oscar na categoria de Melhor Atriz. Além de representar uma conquista pessoal e familiar, a nomeação seria um marco para o cinema nacional, reafirmando o talento e a relevância do Brasil no cenário internacional. Enquanto a lista oficial de indicados será revelada em 17 de janeiro de 2025, o entusiasmo e as expectativas em torno de “Ainda Estou Aqui” continuam a crescer.
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