Apesar de morar em São Paulo há 30 anos, o olhar do fotógrafo Agliberto Lima nunca perdeu o encanto pela sua Bahia natal. Registros feitos ao longo de 50 anos pelo artista de 72 anos compõem um grande acervo histórico de paisagens e personalidades ilustres e anônimas, que fazem parte de um projeto de exposição, ainda em busca de instituição e patrocinador para virar realidade.
A ideia do baiano é dividir o material, que já está em fase de edição, em três eixos. O primeiro seria o Centro Histórico de Salvador, de onde fez registros bas décadas de 1970 e 1980 que imortalizam o cotidiano de uma capital baiana em decadência, mas também com muita beleza e vida. “Naquela época, o Centro Histórico parecia ter sido bombardeado, um cenário de guerra. Eram ruínas, muito lixo, prostituição… E registrar aquilo era muito importante, muito bonito”, reflete Lima.
Outro eixo seria composto por retratos de personagens anônimos e ilustres que conheceu ao longo dos anos, como Jorge Amado e Zélia Gattai, Irmã Dulce, Glauber Rocha, Mestre Pastinha, João Ubaldo Ribeiro e José Adário dos Santos, o Zé Diabo, um dos maiores ferreiros de santo do estado. Por fim, o terceiro eixo do projeto celebraria o Recôncavo Baiano, onde esteve de volta recentemente, colhendo imagens dos tradicionais ceramistas de Maragogipinho.
Trajetória na fotografia
Agliberto começou seu ofício no extinto Jornal da Bahia, aos 19 anos, em seu primeiro emprego após deixar o Exército. “Comecei nos arquivos do jornal, recebendo imagens do mundo todo. Me encantei e logo comprei uma maquininha para fotografar”, lembra em entrevista à Veja São Paulo. A partir daí, suas mãos nunca mais abandonaram uma câmera. “Do Jornal da Bahia, eu fui para a sucursal do Estadão em Salvador. Lá, eu consegui fazer todas essas imagens porque existia um foco na área patrimonial e cultural”, revela.
Após o fechamento da sucursal, ele foi chamado pelo então diretor de fotografia do jornal, Hélio Campos Mello, para trabalhar em São Paulo, mudança que ele considera fundamental em sua carreira. “Aqui, tive acesso a viagens para outros estados e outros países. Fotografei a seleção brasileira, a Fórmula 1, o leque se abriu”, contextualiza o fotógrafo, que nunca perdeu o encantamento pelas paisagens da Bahia e o desejo de preservar a memória patrimonial do estado.
“A Bahia tem uma riqueza arquitetônica peculiar. Quando eu faço uma foto em Salvador, tenho que ambientar nesse universo de história, arquitetura, cultura e religiosidade”, conta o artista sobre seu olhar fotográfico em relação ao território natal, onde mantém uma casa de veraneio na Ilha de Itaparica.