Natural de Conceição do Coité, o baiano Geovane Carneiro foi citado, recentemente pelo renomado Alex Atala, de quem é braço direito, como “o alicerce do D.O.M.”, restaurante mais premiado do chef paulista, com duas estrelas Michelin. O baiano deixou sua cidade natal aos 17 anos, ao pisar em Salvador e ver o mar pela primeira vez. Antes de se mudar de vez para São Paulo, em 1994, o mais velho de seis filhos veio para a capital baiana trabalhar como garçom na praia. “Era uma boca a menos para meus pais alimentarem”, disse ao jornal Valor Econômico.
A mudança para a capital paulista não foi das mais fáceis. “Foi uma mudança bem forçada porque, naquela época, a seca estava muito presente no sertão. Neste período, meus primos me convidaram para vir morar aqui e acabei aceitando”, contou em entrevista exclusiva ao Alô Alô Bahia.
Para chegar lá, vendeu o bem que considerava mais precioso, um cavalo, para pagar a passagem. Já instalado, ainda foram quase quatro meses de desemprego até virar representante de uma marca de coco. Para chegar ao 72, restaurante no qual Alex Atala trabalhava, ainda passou por uma lanchonete, como copeiro, e chegou ao endereço onde sua vida mudou como lavador de pratos.
No espaço em que já era colega de Atala, foi promovido, três meses depois, a cozinheiro. Aprendeu “na raça”, como nos contou. “Não fiz nenhum curso e aprendi observando e reproduzindo o que os cozinheiros me passavam como tarefa. Cresci e sempre me espelhei em outros cozinheiros que estavam acima. Alguns se escoraram em mim, mas nunca reclamei porque também aprendi muito com isso”, confessa o chef, que secunda Atala desde a abertura do seu primeiro restaurante, o extinto Na Mesa, em 1999. No mesmo ano, foi inaugurado o D.O.M., no qual o baiano, hoje com 49 anos, trabalha há 25, desde o primeiro dia.
“50% do nome Alex Atala não fui eu que construí. Foi o time liderado pelo Geovane. Ele é o alicerce do D.O.M.”, confidencia o paulistano, que ainda comanda o Dalva e Dito, também em São Paulo.
“Acredito que o reconhecimento seja fruto de muito esforço e dedicação. Nesse período em que estou com o Alex, aprendi muito e acho que ser reconhecido por ele vem a partir disso. Fui adquirindo mais confiança e ele começou a me dar mais responsabilidades para cuidar da equipe de um restaurante renomado”, nos disse.
Sobre seguir outra rota e ter, um dia, o próprio negócio, Geovane revela que isso ainda não passa pela sua cabeça. “Por enquanto, não. Todos os dias vejo como funciona o dia a dia de um restaurante e, nesse momento, não é minha vontade. Quem sabe um dia”, pondera o coiteense, que vem à Bahia pelo menos uma vez ao ano visitar os pais.
Longe do glamour da posição que ocupa, ao voltar às raízes, ele busca simplicidade. “Gosto de estar com minha família, matar a saudade e comer a comidinha da minha mãe. É o que mais sinto falta. Por mais que seja simples, comida de mãe é algo que a gente nunca esquece”, defende. E quem vai negar?