Após recomendação do Ministério Público da Bahia (MP-BA) para retirada das cadeiras de bares e restaurantes das vias públicas, donos de estabelecimentos e ambulantes da Saúde afirmam que podem fechar os negócios caso a medida se torne obrigatória. Por outro lado, frequentadores da região estão divididos sobre a decisão da entidade.
Donos do Tamo Junto Botequim, localizado no Largo da Saúde, Richard Wagner Cerqueira, 42, e Doriedson Guimarães, 43, contaram que dependem das cadeiras nas ruas para manter o movimento no bar. Para eles, o fluxo de pessoas na Saúde independe dos estabelecimentos ocuparem as ruas ou não.
“O que causa toda essa confusão na região é o trânsito, devido ao alto fluxo de carros que vêm para o bairro, que possui pouca mobilidade nas vias. Na Saúde, há movimento constante de entrada e saída de veículos e, por ser um bairro antigo e com ruas estreitas, o trânsito se torna um caos. Por exemplo, em dias de jogo do Bahia na Fonte Nova, o bairro fica tumultuado, independentemente dos bares estarem abertos ou fechados”, declarou Richard Wagner.
Ele ainda acrescentou que as cadeiras nas calçadas e ruas são essenciais para os bares na região que, em geral, possuem pouco espaço interno. De acordo com Richard, a medida do MP vai afetar mais de 500 famílias que trabalham no bairro. “Se acontecer, nós teremos que fechar o bar. Nosso espaço interno tem apenas 20 metros quadrados. Como vamos atender o público? As pessoas vão ficar de pé? Seria impossível obter receita suficiente para arcar com os custos”, disse.
O fechamento de bares e restaurantes na região afetaria não apenas os estabelecimentos como os ambulantes da Saúde, conforme apontou Jaguaracira Souza, 44, que vende bebidas em uma caixa de isopor no Largo da Saúde. “Eu sou solteira, dependo do isopor para sustentar meus filhos e pagar meu aluguel. Vai ficar difícil para a gente que é ambulante, já que menos gente vai vir pro bairro”, reclamou.
O ambulante Nivaldo Dias, 38, defende uma regulamentação que possa contemplar a todos. “Cada um merece levar seu pão de cada dia para casa. Se não tiver legalização, é necessário legalizar da forma correta. Se não tiver cadeira as pessoas não vão ficar nos estabelecimentos, vão apenas pegar o que querem e ir embora. Muitas pessoas querem defender o seu direito, mas não querem olhar para o do próximo”, declarou.
Entre os moradores, que relataram como principal problema o trânsito da região, a medida dividiu opiniões. Para uma aposentada, que optou por não se identificar, a decisão do MP não resolve o problema do tráfego local. “Não são só as mesas e cadeiras que estão atrapalhando. Muita gente em pé também atrapalha. O que precisa ser feito é uma reordenação do trânsito por aqui”, afirmou. Outro aposentado, que mora no bairro há 20 anos, disse que a retirada das cadeiras vai aliviar o tráfego dos carros. “Estavam abusando demais das cadeiras. Claro que a Saúde precisa ter movimento, mas é necessário uma aliviada na quantidade para não congestionar o tráfego. Eu mesmo evito pegar meu carro e andar por aqui porque o trânsito é horrível”, opinou.
Na Saúde, moradores evitavam se identificar devido a um clima tenso na região. Um dos entrevistados, cuja identidade foi preservada, foi ameaçado de agressão após dar uma entrevista à reportagem. O homem, que vai ao bairro três vezes na semana para visitar um familiar, havia dito que era a favor da medida e que as vias do local necessitavam de ordem. “Tem momentos do fim de semana que a gente não consegue passar de maneira cômoda na rua. Às vezes gera transtorno, pois os frequentadores continuam obstruindo a passagem muitas vezes. Acho que se tiver uma disciplina e houver uma determinação de espaço para os estabelecimentos vai melhorar bastante”, disse.
No dia 14 de outubro, o MP emitiu um documento no qual sugere que a prefeitura de Salvador fiscalize estabelecimentos comerciais que colocam mesas e calçadas em vias públicas. Segundo a entidade, a gestão municipal deve notificar, autuar e até caçar os alvarás de funcionamento dos locais que obstruam a passagem de pedestres e veículos.
A recomendação cita estabelecimentos comerciais e comércios ambulantes de seis bairros de Salvador. São eles: Saúde, Barra, Bonfim, Castelo Branco, Liberdade e Dois de Julho. O Ministério Público da Bahia pede ainda que seja apresentado um plano de 60 dias prevendo medidas de fiscalização contínuas para garantir a acessibilidade e a mobilidade da população.