Delação
Apesar das penas, Lessa e Élcio devem sair bem antes da cadeia. Os dois assinaram um acordo de delação premiada, que levou ao avanço das investigações – principalmente em relação aos mandantes.
No acordo, está previsto, entre outras coisas, que:
- Élcio Queiroz ficará preso, no máximo, por 12 anos em regime fechado;
- Ronnie Lessa ficará preso por, no máximo, 18 anos em regime fechado – e mais 2 anos em regime semiaberto.
Esses prazos começam a contar na data em que foram presos, em 12 de março de 2019 – um ano após o crime. Ou seja, 5 anos e 7 meses serão descontados das penas máximas.
Assim, Élcio pode deixar a cadeia em 2031, e Lessa iria para o semiaberto em 2037, e fica livre em 2039.
Juri Popular
O julgamento seguiu por dois dias intensos no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Nesta quinta-feira, promotores, advogados de acusação e defesa apresentaram suas teses ao júri, com o Ministério Público pedindo pena máxima de 84 anos para os réus, em resposta aos crimes que ambos respondem.
O promotor Fábio Vieira foi contundente ao caracterizar o depoimento dos réus como uma “farsa” e destacou a falta de remorso dos acusados. “Eles não estão arrependidos; estão tristes apenas por terem sido pegos”, afirmou Vieira, enfatizando o sangue frio com que Lessa, ex-policial militar, descreveu o crime.
“Na verdade, não há arrependimento. É uma característica do sociopata: ausência de empatia, de valores. Eles estão apenas tristes pela captura”, reforçou Vieira.
O advogado de Lessa, Saulo Carvalho, destacou a importância da colaboração de seu cliente, alegando que ele teria apontado Chiquinho e Domingos Brazão como mentores do crime. Carvalho argumentou que, sem a delação de Lessa, as investigações teriam sofrido entraves. Ele pediu uma condenação “justa”, adequada à “culpabilidade” do réu.
Por sua vez, os advogados de Élcio de Queiroz procuraram reduzir a pena, alegando que ele não tinha conhecimento pleno do plano. A defensora Ana Paula Cordeiro argumentou que Queiroz acreditava que apenas Marielle seria morta, sem imaginar o envolvimento de outras vítimas.
“Que seja responsabilizado na medida de sua culpabilidade. Ele assumiu os fatos e tem compromisso de falar a verdade, pois o acordo pode ser cancelado caso contrário”, afirmou Cordeiro.
Protestos
O primeiro dia de julgamento foi marcado pela presença de familiares e amigos das vítimas, que reviveram os eventos de 14 de março de 2018, quando Marielle e Anderson foram brutalmente assassinados no Estácio.
Na entrada do fórum, manifestantes de movimentos sociais e parentes se uniram em um protesto silencioso, segurando faixas e girassóis, enquanto dentro do tribunal nove testemunhas compartilharam relatos emocionados, repletos de memórias dolorosas.
A única sobrevivente do ataque, Fernanda Chaves, trouxe um relato comovente do momento do crime. Segundo ela, o grupo seguia de carro após um evento na Lapa, quando foram abordados. Em suas palavras, ela lembra de pedir socorro enquanto tentava entender o que havia acontecido:
“Eu e Marielle conversávamos sobre o dia, até que… tudo aconteceu. Eu estava ensanguentada, desesperada por ajuda. Queria acreditar que ela estava viva, mesmo sabendo que… talvez não estivesse.”
Em um dos momentos mais emocionantes do julgamento, Marinete Silva, mãe de Marielle, relembrou, por cerca de 45 minutos, a trajetória da filha, desde o nascimento até o impacto devastador de sua morte. Sua fala refletiu a dor constante que acompanha a ausência de Marielle:
“É uma dor que não se apaga. Nunca passou pela nossa mente perder minha filha assim, de forma tão covarde e injusta. Parece que alguém arrancou um pedaço do meu coração”, desabafou Marinete.
Ela ainda destacou que estava ali não pela figura política de Marielle, mas como uma mãe que busca respostas e justiça.