Antonio Tarsis, Jayme Fygura, José Adário dos Santos e Rebeca Carapiá são os artistas cujas obras representam a Bahia no 38º Panorama da Arte Brasileira: Mil Graus, projeto bienal do Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, de 5 de outubro de 2024 a 26 de janeiro de 2025.
Com tema que reflete as urgências do tempo presente, a proposta curatorial do projeto expositivo é elaborar criticamente a realidade atual do Brasil sob a noção de calor-limite — conceito que alude a uma temperatura em que tudo derrete, desmancha e se transforma. O evento busca traçar um horizonte multidimensional da produção artística contemporânea nacional, estabelecendo pontos de contato e contraste entre diversas pesquisas e práticas que, em comum, compartilham uma alta intensidade energética.
A curadoria de Germano Dushá e Thiago de Paula Sousa, e curadoria-adjunta de Ariana Nuala, traz 34 artistas de diversas gerações. A diversidade de mídias e linguagens derivadas desse corpo artístico é reflexo final da pluralidade que orientou a formulação do projeto: há artistas que trabalham com matérias orgânicas e mídias tradicionais, alguns com práticas espontâneas ligadas a conhecimentos tradicionais e outros mais vinculados a formações acadêmicas. Se somam a eles artistas que trabalham experimentações com novas mídias, tecnologias que são pouco convencionais ao circuito artístico, recursos e imagens digitais, equipamentos industriais e materiais artificiais.
Saiba mais sobre os baianos confirmados no evento:
Antonio Tarsis – nascido em Salvador em 1995, adota o reprocessamento de objetos cotidianos como tática de composição e crítica. Caixas de fósforo, caixotes de feira e fragmentos de carvão são exemplos de elementos cuja fragilidade e caráter descartável são aproveitados por Tarsis como registros visíveis da ação do tempo. Ele leva ao evento a obra “Ascendendo o Silêncio”, que toma o centro de uma das alas do campo expositivo. Composta por um tronco de eucalipto carbonizado suspenso no teto e um amplo círculo feito com pedaços de carvão no chão, a instalação faz gotejar água do tronco de ponta-cabeça direto no metal.
Jayme Fygura – artista plástico, gráfico, pintor, escultor, desenhista, performático natural de Cruz das Almas, atuava desde o início da década de 1980 nas ruas de Salvador, deixando marcas da sua imagem pelo Centro Histórico da cidade. Autodidata, dizia ter sido “salvo” pelo desenho. Falecido durante a concepção do 38º Panorama, Fygura é o único artista não vivo a compor a exposição e sua participação é uma homenagem à sua trajetória e à sua obra, que combina a pintura, com a tradição da escultura em metal, da poesia marginal, do rock e das denúncias de opressões cotidianas.
José Adário dos Santos – nascido no bairro de Caixa d’Água, em Salvador, aos 11 anos iniciou-se no ofício de ferreiro de santo com o seu mestre e mentor Maximiano Prates. Desde então, fabrica portões, agogôs e ferramentas de santo, instrumentos de percussão e esculturas de ferro que operam uma espécie de mediação entre os homens e os deuses no candomblé. Hoje, é reconhecido por honrar as raízes afro-diaspóricas que povoam a cultura de sua região. O artista traz ao 38º Panorama um conjunto de esculturas que se referem a divindades e entidades como Ogum Oniré, Oxossi Odé, Agué, Padilha e Exu.
Rebeca Carapiá – artista visual, nascida na Cidade Baixa, em Salvador, se interessa pelas relações produzidas entre a linguagem, o conflito, o corpo e o território, onde cria e organiza um conjunto de práticas e reflexões através de diferentes plataformas de exibição, formação e experimentação artística. Através de esculturas, cobre sobre tela, desenhos, instalações, gravuras, textos e objetos, sua pesquisa busca criar uma cosmologia em torno dos conflitos das normas da linguagem e do corpo, além de ampliar um debate geopolítico que envolve memória, racismo ambiental, economias da precariedade, tecnologias ancestrais, dissidências sexuais e de gênero e as relações de poder entre o discurso e a palavra. No evento, ela apresenta uma grande peça que remete tanto a uma escrita urbana quanto a códigos de outros tempos.
O 38º Panorama da Arte Brasileira: Mil Graus poderá ser visitado de terça a domingo, das 10h às 21h, gratuitamente.