Primeiro, foi um trompete. Depois, o clarinete. Mas a paixão mesmo veio com a flauta. E foi esse amor pela música que levou o premiado flautista baiano Jonadabe Batista, do bairro da Capelinha, em Salvador, direto para a Europa, sem passar por nenhuma outra instituição de ensino musical no Brasil. De volta à Bahia, Jonadabe se apresentou neste domingo (15), no Parque do Queimado, na Liberdade, trazendo para público o concerto ‘Jornadas Melódicas’, onde passa por peças desde o seu primeiro repertório até bacharelado em música e o mestrado em orquestra na HES-SO, em Delémont, na Suíça.
“Me sinto muito feliz em estar aqui hoje. E tudo isso se baseia na questão da oportunidade. Agarrei todas as oportunidades que foram abertas e tudo isso me trouxe até esse momento”, disse, ao retornar aonde boa parte dessa jornada começou. Jonadabe integrou o Neojiba por seis anos, quando passou pela Orquestra Pedagógica Experimental e pela Orquestra Juvenil da Bahia. Do projeto partiu direto para a Suíça, a convite do professor e flautista internacional, o suíço Michel Bellavance. A partir daí, não parou mais conquistando prêmios como a 5ª Competição Internacional de Flauta, na Polônia, em 2019 e concurso da Associação Brasileira de Flautistas (ABRAF), em 2021.
“Comecei a me interessar pela música aos 10 anos, muito por conta dos meus pais que são cristãos e musicistas. Meu pai, trompetista e minha mãe toca bombardino e é regente do coral da igreja. Mas a flauta, eu descobri através da minha irmã. Olhava ali no Google como tocava, tudo de uma maneira bem autodidata mesmo. Até que ingressei no Neojiba tocando clarinete, mas a minha orquestra não tinha flautista ainda até que escolhi esse instrumento para levar na minha carreira”.
Aos 23 anos, o músico também conquistou um lugar na Opera Ballet Vlaanderen, na Bélgica, país para onde se muda ainda este ano. “Finalizei meu clico na Suíça e agora vou para a Bélgica começar um novo trabalho. Sinto simplesmente muita alegria pelos meus sonhos estarem se realizando”, acrescenta o flautista.
Jornada
Durante a apresentação que durou cerca de 1h, Jonadabe foi acompanhado pelo pianista Arthur Marden, entre as peças que se destacaram a composição ‘Ballade’ do francês Philippe Gaubert (1879 – 1941), onde o músico convidou a plateia a fechar os olhos e se imaginar em um ambiente de praia e de ondas do mar: “Essa é uma composição que ele escreveu a margem do mar. E eu espero realmente que eu consiga transportar vocês para esse ambiente”.
Outro destaque do repertório foi a ‘Sinfonische Kanzone’, peça do compositor alemão Sigfrid Karg-Elert (1877 – 1933). “É uma peça que exige muito do músico pelo contraste da composição. É bem intenso e, ao mesmo tempo, desenvolve tudo de uma forma virtuosa, orquestral. É a peça que eu mais me identifico”, comentou.
De lá da plateia, assistindo bem de perto todo o concerto, os pais de Jonadabe, Cleovano Batista e Ivonides de Jesus, eram só sorrisos, aplausos e muito orgulho do filho flautista. “Nós temos três filhos e Jonadabe é o nosso mais novo. Só iam ser dois, mas ele apareceu e foi uma benção de Deus na nossa família. Aprendeu a tocar trompete em pouco tempo, depois o clarinete e flauta. Mesmo morando fora desde os seus 17 anos, ele teve todo o nosso apoio e gente ficava daqui pedindo a Deus que desse tudo certo. Eu sempre dei vazão ao sonho dele. Ele não é mais só o nosso filho. Agora é do mundo, é universal. E é o mundo que vai usufruir da música dele”, afirmou o pai.
Para o fundador do Neojiba, Ricardo Castro, Jonadabe é uma das histórias mais belas do projeto. Ricardo também é pianista, educador, regente e gestor cultural. “Ele é uma história de exemplo de uma semente que o Neojiba planta no coração desses jovens. Jonadabe sempre se preocupou com o próximo, com um altíssimo nível de desempenho. Pode ser considerado hoje, o maior flautista da Bahia”.