O conto “Bolero de Satã”, presente no livro “Aflitos”, do escritor, jornalista e ativista Jean Wyllys, vai virar um curta-metragem com roteiro e direção de Ceci Alves. A cineasta e jornalista baiana antecipou a novidade com exclusividade ao Alô Alô Bahia. “Prevejo que as filmagens comecem no final deste ano, a partir de novembro ou dezembro”, detalhou ela. Para o elenco, os atores Ciro Sales e Adriano Big Soares já foram escalados. A atriz protagonista está sendo escolhida. Tudo ocorrendo conforme planejado, o filme será lançado no primeiro semestre de 2025.
Ceci, que comanda a produtora de audiovisual ¡Candela! Produções, ressalva: “A história é universal. Vai ser filmada na Bahia, mas pode se passar em qualquer lugar do mundo. Pode ser em um inferninho no interior da Bahia, na Chapada [Diamantina] Norte, que é onde eu vou filmar, mas é uma realidade que pode dialogar com qualquer território“.
O curta “Bolero de Satã” bem como um longa-metragem, também em desenvolvimento, fazem parte da comemoração dos 30 anos de carreira de Ceci. Além disso, Ceci compartilhou que a ¡Candela! passará por uma requalificação para ser recolocada no mercado de forma mais pujante e competitiva. Recentemente, a microempresa foi contemplada com um apoio da Lei Paulo Gustavo Bahia.
Esta será a primeira adaptação de uma obra de Jean Wyllys para o cinema. Segundo Ceci, a produção representa para ele a concretização de um sonho. “Eu me lembro que, desde o primeiro momento que eu li o conto ‘Bolero de Satã’, no início dos anos 2000, tive vontade de adaptá-lo. E aí, falei com ele, e ele disse a coisa mais linda: que seria uma honra, e só iria se realizar plenamente no dia em que eu adaptasse um conto dele”, relata a roteirista, comovida.
A ideia ficou guardada desde então. Nesse meio-tempo, Ceci releu o conto repetidas vezes e, em 2005, enquanto assistia a um episódio do BBB que Jean foi vencedor, o roteiro surgiu pronto, inteiro, na sua cabeça. “Eu o escrevi inspirado por esse momento ativista dele – já que ele fala que foi ao BBB para ‘hackear’ o programa por dentro”, divide.
Embora partilhem do mesmo diploma, da Faculdade de Comunicação (Facom) da Universidade Federal da Bahia (Ufba), os dois só pegaram amizade em meio à rotina profissional, quando fizeram parte da equipe do Jornal Correio. “A gente tem muito em comum. Assim como ele, eu sou afrodescendente, mestiça, e da periferia. Isso conectou muito a gente. Pensamos muito parecido, do ponto de vista do uso da nossa intelectualidade, porque tem uma mania da academia de deslegitimar movimentos e expressões artísticas populares. Eu e Jean achamos que não, que isso tem que estar dentro do arcabouço social e intelectual de uma nação”, pontua Ceci.
Fã assumida do amigo, ela não poupa elogios à escrita dele. “A escrita de Jean é uma coisa magistral, eu diria. Eu sou completamente embevecida, e a acompanho desde o primeiro livro dele, ‘Aflitos’. Fico brincando que eu tenho a biblioteca toda dele, tudo que ele lançou, eu tenho autografado”, orgulha-se.
A história de Bolero de Satã no papel e na tela
No livro “Aflitos”, de Jean Wyllys, o enredo de “Bolero de Satã” conta a história de uma mulher que se encontra com o diabo em um inferninho, lugar ao qual a protagonista não pertence. Depois de uma dança e de um diálogo instigante entre a mulher e Satã, o diabo carrega consigo a alma dela. Depreende-se, portanto, que o pacto foi feito.
O curta de Ceci Alves traz, no roteiro, uma pitada de realidade: na trama, a personagem principal é agredida fisicamente pelo marido. Até que, certa noite, ao dormir, ela sonha que está no inferninho, onde conhece o diabo. Porém, a cineasta entrega que o espectador não saberá distinguir o que é verdadeiro e o que é imaginação.