O Porto da Barra, um dos principais cartões-postais de Salvador, foi apontado pelo Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), neste domingo (15), como um dos dezenove pontos impróprios para banho na capital baiana. Mesmo assim, a praia ficou lotada. De soteropolitanos a turistas, todos foram aproveitar o sol e o mar da Baía de Todos-os-Santos.
No local, a maioria dos banhistas não sabia que a praia estava imprópria para banho. O cozinheiro Edson Félix, que foi ao Porto da Barra após receber uma folga, disse que não teria entrado no mar se soubesse do levantamento.
“Normalmente venho durante a semana, mas hoje recebi uma folga e resolvi vir para praia. Faltou divulgação. Às vezes eu vejo passando que a água tá imprópria. Se eu soubesse, não entrava na água. Você é doido? Pôr minha vida em risco. Mas agora já entrei, fazer o quê”, conta. Edson é pai de cinco filhos e acrescenta que vai culpar as autoridades em caso de contaminação dos familiares.
O boletim de balneabilidade do Inema é realizado para avaliar a qualidade da água. Para isso, é analisada a presença da bactéria Escherichia coli (E. coli), que serve como indicador microbiológico de contaminação fecal.
Outras situações que também levam à classificação de água imprópria são derramamento de óleo, extravasamento de esgoto ou surtos de doenças transmitidas pela água, por exemplo. O órgão não especificou qual o tipo de contaminação do Porto da Barra.
A reportagem não encontrou sinalização no local que informasse sobre a qualidade da água. Questionado, o Inema não respondeu se houve sinalização nos locais contaminados, até o fechamento desta edição. A entidade disponibiliza o site oficial e também o aplicativo ‘Vai Dar Praia’, para conferir a balneabilidade dos locais.
Diante do cenário, a contaminação surpreendeu não só os baianos como Edson, mas também os turistas de passagem. Em sua segunda visita a Salvador, Lucas Karsten e Gionéia Copetti, mãe e filho vindos de Santa Catarina, também não sabiam da informação.
“Poxa, que banho de água fria! Chegamos faz uma hora, pelo menos foi pouco tempo na água. Deviam colocar pelo menos uma placa informando a qualidade da água. Aí as pessoas decidem se querem entrar ou não”, disse o catarinense.
Apesar de muitos banhistas não saberem sobre a poluição da água, os comerciantes sentiram o movimento mais fraco. No entanto, para a vendedora de bebidas Fátima Araújo, pouco importa a contaminação do mar: “O povo não liga para esse negócio de poluição. Só olhar aí, a praia está lotada. Se soubesse ou se não soubesse, o povo ia tomar banho igual”.
Riscos de contaminação
A contaminação da água com a bactéria Escherichia coli oferece riscos a todos os públicos, em especial crianças, idosos e pessoas com sistema imunológico enfraquecido. É o que afirma o infectologista e assessor técnico do Laboratório Central do Estado da Bahia, Antônio Bandeira.
“Os riscos são vários, mas os principais são diarreia, náuseas e secções intestinais. Para quem tem o sistema imunológico enfraquecido, também é possível contrair sepse”, informa. Ele explica que a sepse é uma infecção potencialmente grave e que é necessário tratamento, normalmente realizado através de antibióticos.
Apesar dos riscos, o médico ressalta que o simples contato com a água não é suficiente para causar doenças. Para que haja contaminação, é necessário ingerir as bactérias.
“Se você botar seu pé na areia, você não vai ter nenhuma contaminação, mas, por exemplo, mesmo que você mergulhe de boca fechada, as bactérias vão estar no seu corpo e no seu rosto, então é provável que você acabe engolindo”, explica.