Uma nova obra de Tarsila do Amaral, icônica pintora brasileira, foi descoberta recentemente, décadas após sua morte. Intitulada “Paisagem 1925”, a pintura, que integra a valiosa fase Pau-Brasil da artista, passou por uma intensa controvérsia envolvendo sua autenticidade. A descoberta, feita mais de 50 anos após o falecimento de Tarsila, gerou grande interesse no meio artístico e entre colecionadores.
A polêmica começou em abril deste ano, durante a SP-Arte, a maior feira de arte da América Latina, quando surgiram suspeitas de que a obra pudesse ser uma falsificação. Isso levou à necessidade de uma perícia especializada, realizada por Douglas Quintale, perito do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e presidente do Comitê de Autenticação de Obras de Tarsila do Amaral. Quintale é atualmente o único especialista autorizado pela Tarsila S.A., empresa que administra o legado da artista, a autenticar suas obras.
Segundo Quintale, a análise da autenticidade de obras de arte não pode se basear apenas em um exame visual. “São disciplinas e ciências afins que vão comprovar e corroborar premissas para uma conclusão objetiva”, explicou o perito. A obra, que até agora foi vista por menos de dez pessoas, passou no teste, comprovando-se como uma autêntica criação de Amaral.
Datada de 1925, a pintura pertence à fase Pau-Brasil, marcada por um forte caráter nacionalista e influências cubistas. Esse período, que vai de 1924 a 1928, é considerado o mais valioso na carreira da artista, quando Tarsila retornou de Paris e começou a pintar paisagens tipicamente brasileiras nas fazendas de sua família em São Paulo. A nova obra é uma adição significativa ao já limitado acervo de Tarsila, que conta com menos de 200 pinturas catalogadas, segundo Thomaz Pacheco, fundador da OMA Galeria.
O proprietário da obra, Moisés Mikhael Abou Jnaid, revelou que a tela foi um presente dado por seu pai à sua mãe nos anos 1960, antes de seu casamento, enquanto a família vivia em São Paulo. A pintura foi levada ao Líbano em 1976, quando a família decidiu retornar a Zahle, onde a obra sobreviveu a intensos bombardeios durante os conflitos entre Israel e Síria entre 1980 e 1982.
Moisés trouxe a “Paisagem 1925” de volta ao Brasil apenas em dezembro de 2023, após a eclosão da guerra entre Israel e Hamas, sem ter plena noção do valor e da importância da pintura para a história da arte brasileira.
Com a autenticidade confirmada, a obra representa um significativo acréscimo ao patrimônio cultural do Brasil e, segundo especialistas, deverá despertar o interesse do mercado de arte internacional. A descoberta também amplia o entendimento sobre a obra de Tarsila do Amaral, uma das mais importantes artistas da modernidade brasileira, cujo legado continua a influenciar gerações de artistas e admiradores ao redor do mundo.