Literatura com cerveja: conheça um clube de livros só para mulheres

Literatura com cerveja: conheça um clube de livros só para mulheres

Redação Alô Alô Bahia

redacao@aloalobahia.com

Priscila Natividade, para o Correio*

Divulgação/Ulisses Dumas

Publicado em 14/07/2024 às 08:28 / Leia em 5 minutos

A história realmente poderia ter saído das páginas de um livro: duas amigas que gostam de ler (e de cerveja) se juntam despretensiosamente para trocar impressões sobre literatura. E esses momentos se transformaram em um grupo que hoje reúne outras 23 mulheres que se encontram em cafés e bares de Salvador para discutir o livro e tomar umas “boas cervejas”, como conta a professora, doutoranda mestra em Comunicação e Cultura Contemporânea (Ufba), Thaiane Machado.

“Formar um clube do livro sempre foi um desejo, mas eu tinha pouca adesão das pessoas que estavam ao meu redor. Com a pandemia, as pessoas passaram a olhar mais para os clubes do livro, uma vez que estavam isoladas e buscaram atividades coletivas para fazer. Somente em 2022, em um encontro com uma grande amiga minha, Renata Sousa, tive a ideia de associar nossos encontros com a leitura de um livro”.

Essa mesma amiga de Thaiane comentou com uma cunhada. Depois, com uma colega de trabalho. E aí uma mulher foi convidando outra de forma bem natural. “O clube foi acontecendo. Virou negócio quando percebi que existia uma demanda grande de pessoas querendo fazer parte”, afirma.

Assim, o Beer And Book (@beerandbook.clube) cresceu. Além de encontros presenciais, existe a possibilidade também de participar online. O plano de adesão varia entre R$ 12,90 e R$ 17 (e depender do modelo de assinatura). Thaiane Machado é quem cuida da curadoria e mediação do clube. Ela faz a escolha do livro, divulga entre as participantes, que se reúnem seguindo um calendário prévio, debatem o livro, bebem cerveja e se divertem.

“No encontro online temos a oportunidade de convidar as escritoras do livro, como o que aconteceu em maio, com a participação de Jessica Cardin, escritora paulista do romance Para Onde Atrai o Azul, ou especialistas em determinados temas – em 2023 convidamos o ator Nilton Bicudo (que esteve na telenovela Todas as Flores, da Globoplay, e participou do filme Os Farofeiros, da Globo Filmes), amante das obras de Nelson Rodrigues, como leitor, encenando espetáculos de teatro e que participou da discussão do livro O Casamento, do mesmo autor”, explica.

Além das 23 assinantes da modalidade presencial, o clube tem mais 20 participantes na modalidade virtual, somando 43 integrantes. Já foram lidos mais de 27 livros. Em julho, a obra escolhida é As Mãos da Minha Mãe, da Karmele Jaio. “Ela é uma autora de Vitoria-Gasteiz, um País Basco, que conta a história de uma mulher (Nerea) que, em um momento crítico da vida, com sua mãe (Luísa) no hospital, com o trabalho que não a estimula, não tem tempo para a filha e sente que o casamento está ruindo. Ela descobrirá um episódio fundamental na vida de sua mãe, ao mesmo tempo que será forçada a enfrentar o próprio passado”, destaca.

O grupo Beer And Book leu também obras como A Cachorra, da colombiana Pilar Quintana. “A narrativa permitiu discussões sobre o maternar, afetos rasos – e a falta de qualquer afeto – na infância e fase adulta, relacionamentos amorosos e familiares conturbados e a relação da personagem principal com um animal doméstico. Não temos gênero de livros, temos um tema que escolhemos, para ser discutido ao longo do ano, e os livros escolhidos trazem esse debate”.

O amor de Thaiane por livros começou ainda criança, quando entrou pela primeira vez em uma biblioteca. “Eu nunca tinha visto tanto livro na minha vida. E quando, de fato, eu passei a estudar naquele local, passei a ser amiga da bibliotecária e acumular assinaturas no cartão de empréstimo”. No clube, se lê de tudo. Não ficam de fora da curadoria livros técnicos, autoajuda, com direcionamento religioso e/ou político, quadrinhos, de ilustração, estrangeiros e brasileiros.

“Estar em um clube é ampliar o poder da escuta e abrir a cabeça para as consonâncias e dissonâncias sobre visões de mundo, afinal, são pessoas de vivências, culturas, experiências distintas, compartilhando como elas veem e entendem o mundo. Cada livro é uma experiência única”.

Apoio e empatia

Mas por que um clube de leitura só de mulheres? Muitas mulheres chegam no grupo ou porque querem retomar um hábito de leitura perdido, ou porque já leem muito e gostariam de compartilhar as experiências de leitura, e ainda têm aquelas que sentem que precisam criar o hábito que nunca tiveram.

“Vivemos um momento muito importante de grandes debates sobre sororidade e empatia feminina. Passamos a nos sentir mais à vontade estar entre mulheres pela segurança do debate e pela forma como cada tema que a leitura trazia acabava tocando cada uma de nós. Achamos que manter isso entre mulheres seria uma forma, também, de buscar e receber apoio”.

A estimativa é que em um ano, o clube possa chegar a 500 assinantes, com um faturamento em torno de R$ 8,5 mil por mês. Além das assinaturas, o clube também movimenta a venda de produtos associados, como as camisas personalizadas e a compra das fotos oficiais. A iniciativa conta com a parceria da Escola do Pensar que promove o agenciamento de iniciativas, através de conteúdos provocativos em redes sociais, blogs, podcast, e-books, eventos e formação.

“O livro é que nos escolhe, na verdade. A expectativa maior é disseminar a cultura do clube do livro pelo Brasil, inclusive nas empresas – estamos implantando atualmente, através da Escola de Pensar, clubes de livro no ambiente corporativo como forma de melhorar a interação entre equipes, o clima no ambiente de trabalho e o debate de temas contemporâneos”, ressalta.

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