Nascido em 1919, em Salvador, Luiz Angelo da Silva é o ogã mais velho em atividade no Brasil. Desempenhando papéis importantes nas casas de culto de matriz africana, Ogan Bangbala, como é mais conhecido, ganha, no próximo dia 27 de julho, no Centro Cultural dos Correios, no Centro do Rio de Janeiro, exposição e documentário, batizados com o mesmo nome: “Vida na fé — matriz africana: edição Bangbala”.
A mostra e o filme, que permanecem no espaço cultural por dois meses antes de seguirem para a Baixada Fluminense, retratam a trajetória do ogã, que tem entre as funções tocar instrumentos de percussão, comandar os rituais, organizar e manter a ordem dos terreiros.
Aos 105 anos, completados no último dia 21 de junho, Bangbala teve sua iniciação religiosa aos 14 anos. Ainda jovem, se mudou para o Rio, se estabelecendo em Belford Roxo, onde mantém o terreiro Asé Shangrilá, no qual ainda participa de todas as atividades, inclusive nos cursos dos fins de semana, nos quais repassa seus conhecimentos aos mais jovens.
“Fazer o que gosta”, diz ao jornal O Globo, entregando o segredo de pela vida longa e leve, que não exclui a cervejinha e, de vez em quando, umas doses de uísque, além de feijão cheio de carnes, mocotó e frango com quiabo, segundo a esposa, Maria Moreira, de 60 anos. Os exames mais recentes não apontam problemas de saúde, como colesterol alto ou diabetes.
“Pai Luiz é uma pessoa que representa muito o candomblé não só do Rio, como da Bahia e do Brasil. É uma figura que muito contribuiu para o desenvolvimento e o aprendizado da religião. É o mestre de muitas pessoas, principalmente porque o candomblé é oralidade. É o conhecimento passado nos terreiros. Ele é o ogã de todas as casas, de todos os axés, de todas as famílias e de todos os lugares”, conta Anderson Bangbose, babalorixá e curador da mostra e do doc.
Segundo ele, o ogã baiano é figura crucial na construção de grandes terreiros tradicionais do Rio e de Salvador, além de ser a perfeita tradução do griô, aquele que detém e divulga a memória de sua comunidade. “Pai Bangbala é um arquivo vivo que traz a ancestralidade. Mostrar seu legado é importante por resgatar a memória de todos os nossos antepassados”, explica, sobre a importância do projeto, que vai reunir pertences, documentos e objetos sagrados e pessoais, de móveis e atabaques e sapatos, a comendas e contas.