Um dos maiores autores de novela do Brasil, Manoel Carlos, aos 91 anos, está aposentado e incumbiu a filha Júlia Almeida de preservar sua vastíssima obra e pediu para ela assumir a produtora Boa Palavra, criada por ele em 2005 junto com a mulher, Elisabety, que administrava tudo.
Em entrevista ao jornal O Globo, Júlia, que é atriz e empresária conta como o pai tem lidado com o Mal de Parkinson, e diz que o desejo dele é ver seu trabalho tendo uma vida longa.
“Olha, (receber o diagnóstico) nunca é bom. Mas é uma doença que é tratável. Ele está muito bem assessorado por médicos e tem acompanhantes. Está sendo cuidado direitinho, tem minha mãe ao lado dele. Eles são casados há 50 e tantos anos, acho lindo esse relacionamento. Ela se aposentou junto com ele. A partir daí, me deram essa missão, que estou assumindo com muita responsabilidade e amor. Eu vou sempre vê-los. Meu pai gosta de ouvir música clássica, faz fisioterapia. Vive lá no universo dele junto com a minha mãe. Faz os exames dele, gosta de ler jornal e pegar sol olhando o Cristo (Redentor). O que ele quer mesmo é que o trabalho dele continue para as outras gerações. Eu entendi o que foi passado para mim”, explica.
“No começo do ano passado, meu pai sentou comigo e explicou que estava aposentado, minha mãe também. Ele quis as coisas dele organizadas. Estava uma bagunça. Fui criada vendo meu pai e minha mãe trabalhando juntos, como parceiros, criando e construindo esse legado. Minha missão é reunir esses arquivos todos, não só os que já viram, porque tem muita coisa nova, e fazer com que a nova geração tenha acesso à marca do Manoel Carlos. Ele está deixando um legado muito importante para o nosso país, não só para a História da televisão brasileira, mas para todos nós. Essa coisa que ele criou de colocar a Bossa Nova junto com o Leblon. Ele mudou a estrutura do bairro. Até hoje é tão misterioso o porquê das Helenas… Tem as histórias das famílias, as causas sociais em todas as novelas. Minha missão é trazer isso para o universo de hoje — afirma Júlia,
A partir do contato com o material, surgiram várias ideias. Já está sendo preparada, por exemplo, uma biografia sobre Maneco. O projeto, em fase de entrevistas, deverá ganhar um lançamento no ano que vem. Na próxima edição da Festa Literária de Paraty (Flip), na Costa Verde do Rio, no segundo semestre, será realizada uma leitura do livro de poemas “Bicho alado” (“Ele tem um amor muito grande por esse livro, foi feito antes de eu nascer”, lembra Júlia)