São raras as vezes em que vimos no cinema o território dos Estados Unidos (EUA) sob ameaça de uma guerra contemporânea ou invasão estrangeira. A não ser, claro, quando falamos de um filme sobre alienígenas, porque aí, invariavelmente, os ETs pousam em terras americanas, como vimos em Independence Day (1996) e afins.
A paz americana também é abalada nos filmes de super-heróis, quando um vilão fictício quer dominar o mundo e começa querendo conquistar os EUA. Mas nesses dois casos, é óbvio, tudo não passa de fantasia e está muito longe de parecer minimamente verossímil.
Mas “Guerra Civil”, que estreia nesta quinta-feira (18) nos cinemas, chega para causar impacto, dando um tom bastante realista e verossímil à possibilidade de um conflito armado se desencadear em território americano. Com o baiano Wagner Moura entre os protagonistas, a produção de US$ 50 milhões conta uma história em um ambiente distópico, num futuro próximo, quando uma guerra civil se instaura nos Estados Unidos.
Em entrevista ao CORREIO, parceiro do Alô Alô Bahia, via Zoom, Wagner Moura concorda que o filme dirigido por Alex Garland foge da fórmula que costuma ser mostrada nas produções de guerra filmadas em Hollywood:
“Foge totalmente! E o filme tem causado uma dissonância cognitiva nas plateias americanas, sobretudo porque nas imagens que os EUA produzem [na ficção e na realidade], estão sempre os países dos outros, como Afeganistão, Iraque e Vietnã”.
O ator acrescenta que a possibilidade de uma guerra em território americano, como ocorre no filme, tem mexido com a cabeça da plateia dos EUA: “Para os americanos, ver essas imagens em Washington [capital dos EUA, que sofre ataques no filme] os deixa perturbados. Perturba a cabeça deles e é isso é uma coisa muito boa: faz pensar no perigo que a gente tá vivendo hoje com essa polarização extrema, tanto lá como aqui”.
Wagner vive o jornalista Joel, que viaja pelos EUA em meio à guerra acompanhado de uma colega, a fotógrafa Lee (Kirsten Dunst). Juntos, eles registram a dimensão e a situação de um cenário violento que tomou as ruas em uma rápida escalada, envolvendo toda a nação. No entanto, o trabalho de registro se transforma em uma luta pela sobrevivência.
A julgar pelo desempenho nas bilheterias dos EUA neste final de semana, quando estreou, Wagner parece estar certo quando diz que o filme tem mexido com a plateia americana: a produção deve cair no gosto popular, já que foi o longa-metragem que levou mais gente aos cinemas entre sábado e domingo (dias 13 e 14), com uma arrecadação de US$ 25,7 milhões somada nos dois dias. Para se ter ideia, a cifra é superior àquela arrecadada por produções como “Os Assassinos da Lua das Flores” e “Napoleão”, ambas do ano passado.
E há razões para isso: além de não ser mais um show de “patriotada” de Hollywood, o filme alia muito bem as ótimas cenas de ação e guerra a uma forte carga dramática e política, com uma complexidade que pouco costumamos ver nesse tipo de produção. Além disso, trata a questão da guerra sem maniqueísmos.
Mas Wagner acredita que “Guerra Civil” é, por incrível que pareça, um filme antiguerra:
“Este é um filme claramente antiguerra e antipolarização. É um filme político, claro, mas que não tem uma agenda ideológica. Ele junta Califórnia com Texas para derrubar um governo despótico. E qualquer associação que a gente faça com qualquer personagem real da política – com Trump ou qualquer outro -, não seria justo com a natureza deste filme”.
Para o ator baiano, o bom desempenho nas bilheterias tem explicação:
“Sinceramente, não foi uma supresa [a arrecadação no fim de semana] porque este filme é o “cálice sagrado”, é o que todo mundo quer: fazer um filme que tem algo para dizer, mas, ao mesmo tempo, é um filme que foi feito para ser um blockbuster, com todos os elementos de cinema de ação, muito bem feito, muito realista e a carga política do filme neste ano de eleição nos EUA deve atrair muita gente, sobretudo nos EUA”.
Onde assistir em Salvador
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