Na calçada e acima da porta de entrada do Sebo Brandão Bahia, dois banners simbolizam o ponto final de uma história de 55 anos. “Descontos imperdíveis”, anunciam as placas, feitas há menos de um mês a pedido de um dos herdeiros do maior templo de livros de Salvador.
“Até junho, julho no máximo, fecharemos as portas”, projeta Eurico Brandão Junior, 66 anos, entre as prateleiras fartas de títulos, enquanto se inteira dos últimos capítulos do negócio.
Desde 1969, o Sebo Brandão ocupa a casa de número 15 da Rua Ruy Barbosa, conhecida no Centro como o endereço dos antiquários.
O criador do espaço, o pernambucano Eurico Bezerra Brandão, 95, reivindica o título de sebo mais antigo e até tentou patentear o uso comercial do nome “sebo”, que remete a venda, compra e troca de livros usados. Não conseguiu.
Mas o sebo teve mais êxitos que derrotas: entrou na rota de intelectuais e de trabalhadores em geral, montou a biblioteca de milhares de baianos, e passou a compor o panteão de símbolos da vida intelectual soteropolitana.
A notícia do fechamento do sebo, especulada no boca a boca desde o início de março, provocou uma corrida de antigos frequentadores até lá. Principalmente porque ela veio seguida de um anúncio: os 100 mil livros disponíveis nas estantes serão vendidos por até 50% de desconto. No pix ou no dinheiro, nada de cartão.
“Nós fazemos parte da cultura baiana. Agora vamos ajudar, retribuir, incentivando mais gente a comprar bons livros por preços promocionais”, avalia Brandão Júnior, que toca a filial do Sebo Brandão em São Paulo, aberta nos anos 70, e veio para Salvador para os acertos finais.
O motivo do fechamento é familiar. Vera Brandão, que ajudava o pai, Eurico, a tocar o negócio, faleceu no fim de fevereiro, depois de uma síndrome respiratória. Pelas limitações físicas da idade, Eurico, que voltou para Recife depois da morte da filha, sabe que não poderá conduzir o espaço sozinho.
Como Eurico Filho já toca os negócios da família na capital paulista e a outra herdeira vive em Recife, não há um novo administrador possível.
Na última década, o sebo também sentiu o peso da soberania do varejo online, em especial da Amazon. O Brandão Bahia aderiu à venda online em 2007. “Mas a venda é fria, aqui há uma venda quente. O livro te chama”, diferencia Brandão Júnior.