Aprovado em 1º lugar no vestibular de Música: Conheça trajetória de Tom Zé na Ufba

Aprovado em 1º lugar no vestibular de Música: Conheça trajetória de Tom Zé na Ufba

Redação Alô Alô Bahia

redacao@aloalobahia.com

Carolina Cerqueira, do Jornal Correio*

Arquivo Pessoal

Publicado em 30/03/2024 às 13:27 / Leia em 4 minutos

O ano era 1962. O músico baiano Tom Zé, hoje com 87 anos, passou — em primeiro lugar, diga-se de passagem — no vestibular da Escola de Música da Ufba (Emus). Vindo de Irará, conquistou os avaliadores com uma harmonia de João Gilberto que diz acreditar que nem mesmo eles saberiam executar. “Falaram que eu deveria ir para a Escola de Música, mas aquilo era algo impensável, inalcançável para gente como eu, parecia coisa de outro mundo e era. Mas eu resolvi tentar, sem achar muito que daria certo”, conta.

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Para alcançar o feito, se dedicou muito, lembra que ficava estudando e ensaiando nos corredores da instituição. “Ficava grudado na parte em que se reuniam os grandes nomes e um dia perguntei a eles como eu fazia uma certa harmonia para evitar a oitava paralela. Aí eles riram, disseram que eu só ia aprender aquilo mais na frente, que eu não tinha capacidade de saber naquele momento. Eu sei que depois eu aprendi e descobri que eles não me ensinaram porque não sabiam nada daquilo”, conta, rindo.

Durante o curso, sem grana para se bancar em Salvador, decidiu largar tudo e voltar para a cidade natal para trabalhar na loja do pai. Ernst Widmer, um suíço que na época era diretor da instituição, lhe arrumou então uma bolsa-auxílio. “Com ela eu pagava a pensão, o café da manhã e o cigarro que eu fumava naquele tempo”, compartilha, bem-humorado.

carteira de estudante de tom ze que dava acesso ao restaurante universitario 2055687
Depois de formado, foi professor de Contraponto e Harmonia na própria Emus, até a chegada de uma polêmica, sobre a qual ele fala, mas se esquiva de detalhes. “Um dia, nesses contratempos que existem de um fulano ser influente e querer colocar sicrano num lugar, saiu uma notícia de que eu chegava na sala de aula vestindo a calça e abotoando a camisa. Eu cheguei para Widmer e disse que estava entregando minhas contas, então fiquei sem trabalho”, relata.

“Me bati com Caetano [Veloso] e contei que estava enrolado. Ele me disse: ‘Lá em São Paulo você pode até se enrolar também, mas vai ter oportunidades de desenrolar’”, completa. Tom Zé pegou o dinheiro que tinha em mãos e embarcou com Caetano rumo à selva de pedras para, junto com Gil, Gal, Bethânia e outros nomes, fazer nascer o movimento tropicalista.

tom ze em uma peca de augusto boal encenada em sao paulo em 1965 2055716 article
A criação polêmica
A Escola de Música da Ufba foi criada em 1954 como a primeira escola de música de nível superior do país. Movimentando o cenário cultural brasileiro e conquistando prestígio internacional, se tornou a mais badalada dos anos 1960. Foi por esse cenário de bastidores de grandes espetáculos musicais que passaram gênios como os suíços Walter Smetak e Ernst Widmer, e ainda o alemão Horst Schwebel e o italiano Piero Bastianelli. Eles saíram da Europa a pedido de um homem que, dividindo opiniões, marcou a história da Bahia: Edgar Santos. Primeiro reitor da história da Ufba, foi dele a iniciativa de criar a Emus.

“O reitor disse: ‘Koellreutter, você vai fazer a escola de música que você quiser’. O resultado foi algo muito sofisticado, um verdadeiro mundo de luxo do ponto de vista cultural; um centro de cultura do Brasil”, conta o músico Tom Zé, de 87 anos, que foi aluno da Emus. O sobrenome complicado citado é de Hans Joachim, um compositor alemão que veio para o Brasil exilado durante a Segunda Guerra Mundial por ter casado com uma judia e sido denunciado à Gestapo. Ele se tornou o primeiro diretor da Escola.

O “mundo de luxo”, somado à fundação das escolas de dança e de teatro, desagradou uma parte dos estudantes, principalmente os das engenharias, como conta Tom Zé: “Faziam passeatas na porta da reitoria”. O antropólogo e historiador Antônio Risério, no documentário “A Última Vanguarda” (2022), complementa: “Tinha um movimento preconceituoso de ‘abaixo às bichas do reitor’, se referindo ao povo de dança, de música e de teatro, que era visto como afeminado”.

 

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