Conhecido como Chico Metamorfose, o artista baiano Francisco Bastos da Costa mantém, há 27 anos, na cidade de São Sebastião, uma região administrativa do Distrito Federal, o Instituto Metamorfose – Cidadão com Profissão. O nome do projeto, que virou também uma espécie de sobrenome, surgiu após uma profunda transformação pessoal, que o fez renascer como cidadão, depois de seis meses em uma clínica onde se tratou contra o alcoolismo.
O projeto oferece aulas de pintura gratuitas, jogos pedagógicos, biblioteca para leituras e apresentação de música e capoeira, ao lado de uma galeria de arte a céu aberto, a Rua das Artes Metamorfose, onde, desde 2018, estão expostos 18 painéis pintados por sete diferentes artistas da região e integrantes do instituto.
Segundo Chico, natural de Muritiba, no Recôncavo Baiano, a ideia é formar cidadãos por meio da arte, sendo também uma fonte de novos talentos e espaço de inclusão social de crianças e jovens em situação de vulnerabilidade, através da arte e cultura. No ateliê, o artista diz já ter lecionado para mais de 10 mil crianças sobre os conceitos de luz, sombra, proporção e as principais técnicas na pintura a óleo.
O mais importante, no entanto, segundo o criador do projeto, é que se comunicando através do pincel, esses jovens se veem afastados da rua e dos vícios. “Depois que eu passei na casa de recuperação foi que eu acordei para dizer para mim mesmo: ‘eu sou um cidadão, eu tenho uma profissão e eu vou atender todos aqueles que estão perdidos ou aqueles que não se acharam'”, disse o baiano de sorriso aberto ao Jornal de Brasília, reforçando que influenciar positivamente a vida das crianças é a sua missão de vida.
No ateliê, inclusive, ninguém é apenas aluno o tempo todo. Com cerca de 10 alunos por turma, a fim de que possa dar a todos uma atenção especial, o professor faz questão de estimular aqueles que já demonstram mais controle com os pinceis e tintas a passarem isso adiante, como instrutores dos próprios colegas. “É um espaço de troca de saberes constante”, gosta de destacar Chico, que conta com o apoio de Madalena, sua esposa, que cozinha para as crianças.
A primeira pintura do artista autodidata foi feita enquanto ele ainda estava na casa de recuperação, em Ceilândia. Em uma pausa, após capinar parte de um terreno sob o sol quente, uma coruja em um cenário noturno foi sua inspiração. “Eu já me sentia recuperado. Então, eu não queria ficar fazendo uma coisa que não ia contribuir para a minha vida artística. Eu já ficava acelerado e queria pintar. Foi onde a coruja nasceu”, relembra.
Ao sair da reabilitação, sem um espaço para chamar de seu, começou o projeto no quarto alugado de um antigo vizinho. O que começou como uma casa de louvor logo se tornou o ateliê de Chico, que, recentemente teve sua reforma anunciada. As pilastras com ferrugem e paredes com rachaduras expostas em breve não existirão mais, após as obras que serão financiadas por um leilão das obras do próprio Chico e com apoio da produtora Bem Dito, à frente da carreira do grupo de pagode brasiliense Menos é Mais.
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Os pagodeiros se mobilizaram e se uniram ao Archademy Distrito Federal, um coworking focado em arquitetos e designers, para organizar um concurso entre alguns escritórios de arquitetura que assinariam o projeto da reforma do instituto. Ainda esse ano, o novo espaço, com estrutura renovada e melhora no conforto térmico, terá suas obras iniciadas e entregues, através de uma coautoria dos escritórios Noví Arquitetos e Noi Due Arquitetura.
“Com a reforma do instituto nós poderemos alcançar mais famílias e profissionais para mudar esse mundo. Antes do projeto eu me perguntava como poderia continuar em um espaço que na época do calor ficava muito quente e na chuva molhava mais dentro do que fora”, comemorou Chico, em entrevista ao Correio Braziliense.
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