O Brasil, já tão sofrido, pode perder parte de sua fofura. Dois projetos de leis que tramitam no Congresso querem proibir a venda e criação no território nacional de cães das raças shih tzu, pug e buldogue, entre outras. Antes de sair xingando os políticos nas redes sociais (não e que eles não mereçam, mas…), é bom se atentar que o assunto é mais sério que parece e merece, ao menos, reflexão. A justificativa é evitar o sofrimento desses animais. A proposta mais dura sugere que a violação da proibição seja punida conforme a Lei de Crimes Ambientais, que estipula pena de prisão de três meses a um ano, além de multa.
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Essas raças têm como uma de suas características o focinho achatado. E por isso são conhecidos como animais braquicefálicos. Elas são resultado de um longo processo de “melhoramento genético”, entre aspas mesmo, porque o melhoramento aqui tem mais a ver com uma adequação ao mercado consumidor que com o objetivo de fazê-las mais resistentes a doenças, carrapatos, etc.
Nesse caso, o processo necessariamente não envolveu sofrimento aos bichos, ou manipulação do DNA em laboratório. Ele foi feito com base em cruzamentos entre espécimes que apresentavam focinhos mais curtos que o normal, gerando filhotes com a face cada vez mais achatada.
A ideia era a de atender ao público (tutores e futuro tutores) que passou a demonstrar mais interesses por raças e cães com aparência mais humanizada, com rosto infantil, fofo, encantador.
Para muitos veterinários aconteceu um “pioramento genético”. O cruzamento de cães com focinhos cada vez mais curtos resultou em diversas alterações físicas nas raças, prejudicando sua saúde e qualidade de vida. Em comparação com aqueles cachorros de focinho alongado, os braquicefálicos têm maior dificuldade em umedecer o oxigênio que alcança os pulmões. Além disso, a seleção por cruzamentos para reduzir gradativamente o tamanho do focinho provocou deformidades, a exemplo do estreitamento excessivo do espaço por onde o ar ingressa nos pulmões.
Assim, esses animais estão propensos a adquirir a Síndrome Braquicefálica, uma condição que impacta as vias respiratórias e cria problemas como narinas estreitas e uma traqueia subdesenvolvida, responsável por filtrar, umedecer e direcionar o ar para os pulmões. Essas raças também podem enfrentar o colapso traqueal, quando o tubo que conduz o oxigênio aos pulmões torna-se mais flácido, dificultando o direcionamento do ar para os pulmões.
A deputada Duda Salabert (PDT-MG) é autora de um dos projetos. O texto dela cita que na Holanda, desde 2014, foi implementada uma lei proibindo raças de cães com focinho achatado no país.
Ao justificar a medida, a parlamentar destaca que, frequentemente, a criação seletiva ignora os aspectos relacionados à saúde e bem-estar dos animais, podendo resultar no desenvolvimento de características físicas prejudiciais. Ela ressalta que os donos atuais de cachorros braquicefálicos não serão impactados pela eventual aprovação da lei. O outro projeto é do deputado Nilto Tatto (PT-SP).