Quando o look criado por Beatriz Alecrim subiu ao palco do festival The Town, em São Paulo, no último dia 6 de setembro, embelezando o rapper Mc Cabelinho, a estilista baiana viu um de seus grandes sonhos ganhar uma nova dimensão.
Aos 25 anos, a criadora da marca MEA, nascida em Barra do Mendes, na Chapada Velha, leva para a moda nacional a memória afetiva da infância e o DNA de sustentabilidade que sempre fizeram parte da sua história. “Cresci vendo minha avó costurando com retalhos e transformando roupas pra passar para as próximas gerações”, lembrou ela, em entrevista exclusiva ao Alô Alô Bahia.

Beatriz Alecrim usando uma criação própria — Foto: Diêgo Bastos
A relação com a costura começou cedo, quando improvisava roupas de Barbie cortando panos de mesa da avó. Essa vivência moldou o olhar para a transformação do que já existe. “Acredito bastante que coisas podem ser transformadas, seja um pano de mesa, um guardanapo ou até jeans, que dura a vida toda”, conta.
Com 17 anos, Beatriz deixou a pequena cidade baiana para morar em São Paulo e, aos 18, iniciou um curso técnico de modelagem na Etec. A MEA nasceu como trabalho de conclusão, com o desafio de aproveitar tecidos de refugo, na época, a única matéria-prima que cabia no bolso.
Em 2021, com a pandemia e o afastamento do emprego de carteira assinada, a ideia virou negócio. “Meu avô dizia que eu estava perdendo de ganhar dinheiro porque era muito criativa, mas essa criatividade sempre foi acompanhada de muito medo”, admite.
Foi o momento de investir o dinheiro que recebia no período em uma máquina de costura e abrir a loja no Instagram: “De primeira já teve uma aceitação muito boa. Faço tudo em casa, inclusive as fotos, e vou aprendendo junto com o processo”.
O reaproveitamento segue no centro da MEA. “Tem muita coisa no mercado parada precisando circular. Cresci descobrindo possibilidades de criar com o existente e percebi que poderia transformar o que por muito tempo foi a necessidade da minha família no meu trabalho”, afirma.
Essa proposta autoral e sustentável conquistou artistas como Anitta, Marina Sena, Liniker, Carol Biazin, Ebony e, mais recentemente, Mc Cabelinho. Para Beatriz, o segredo é criar peças que ela mesma gostaria de usar. “Gosto bastante de fazer peças como se eu tivesse indo a festivais ou festas, então acho que isso influencia bastante também a chegar nessas pessoas”, explica.
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Marina Sena usa saia de babados da MEA no festival Rock The Mountain, no Rio de Janeiro — Foto: Fernanda Tiné

Liniker usa saia fivelona da MEA — Foto: Reprodução/Instagram
O convite para vestir Cabelinho no The Town marcou também um novo passo. “Fiquei muito feliz, pois o público masculino não é algo que estou acostumada a trabalhar, mas que estava querendo já adentrar e não sabia bem como”, comemora.
Essa ousadia reflete o percurso de quem enfrentou obstáculos para se firmar. “Meu maior desafio foi o medo de começar e depois a falta de acessos. Fazia tudo em um quarto minúsculo, dormia e acordava olhando pro meu trabalho que queria ver crescer, mas não tinha recursos. Gosto de acreditar no tempo e que estou construindo aos poucos o meu sonho”, diz.
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Com o crescimento da MEA, Beatriz enxerga um mercado mais atento às marcas independentes. “Grandes artistas estão entendendo a necessidade de dar visibilidade ao Brasil e vestir de quem faz. Creio também que seja uma necessidade do mercado. Então, por que não juntar o útil ao agradável?”, avalia.
Para o futuro, a estilista mira alto, mas sem pressa. “Meu grande sonho é um dia fazer um desfile e que essas peças sejam feitas pelas mãos das pessoas da minha terra, Barra do Mendes, e por minha família, que já faz algumas peças também. Mas sei que preciso consolidar a minha marca no mercado antes disso”, revela.
E já pensa em novas parcerias: “Adoraria também fazer uma collab com marcas que admiro, como já fiz com amigos e brechós de São Paulo e Rio de Janeiro”.

Mariana Rios usa blazer feito por Bianca Alecrim — Foto: Reprodução/Instagram