Com uma longa carreira de 30 anos como fotógrafo, o baiano André Fernandes teve seu trabalho reconhecido no Concurso Internacional de Arte para Artistas Minoritários, promovido pela ONU, que só seleciona oito artistas de todo o mundo. Ele conquistou o prêmio com o ensaio “Orixás”, fotografado em 2014 no terreiro Ilê Axé Alaketu, em Salvador.
Ao longo da sua trajetória, o profissional já realizou diversas exposições individuais e coletivas. Também atua em projetos na área artística e cultural, como “Àtilende – O Nascimento de um Terreiro de Candomblé”, “Orixás por André Fernandes”, além de “Ojú Okan Orixás” no Palacete das Artes, em Salvador e PEBA, projeto que reúne artistas de Pernambuco e Bahia e está aberto ao público na Caixa Cultural de Recife.
Nascido na capital baiana, o fotógrafo tem como principal inspiração retratar o cotidiano da cidade, em especial sua cultura e religiosidade negra, fator que o fez se aproximar do Candomblé, foco da sua produção artística desde 2009. “Documentar os Orixás é um ato para preservar a memória afrodescendente e trazer luz para a beleza e força que a religião do Candomblé representa, com todas as sutilezas, detalhes e ancestralidade que se fazem presentes na demonstração de fé e amor ao sagrado”, explica Fernandes.
Desde então, André vem construindo projetos voltados para a religiosidade, sendo que, deles, “Orixás” ganhou o maior destaque. O ensaio demandou desafios para o artista, levando alguns anos até sua finalização. “‘Orixás’ revela as divindades do Candomblé com todas as suas vestes, adornos e indumentárias usadas nas obrigações e festas cíclicas do terreiro. Foi um projeto que demorou bastante tempo desde a concepção até a produção das fotos. Para se ter ideia, eu comecei a correr atrás dos materiais entre 2012 e 2013. Foram muitas trocas, muitas conversas para chegar a cada elemento utilizado”. Assim, o projeto só foi finalizado em 2014, e, neste ano, teve sua consagração.
André Fernandes gosta de trabalhar sob uma perspectiva social bem definida, algo que permeia toda sua criação artística. Ele acredita que fotografar grupos minoritários e a religiosidade de matriz africana ajuda a fomentar conversas e contribui para a diminuição de preconceitos. “As fotografias trazem a possibilidade de acender o debate e a reflexão sobre o Candomblé, tendo em vista que quanto mais gente falando e desmistificando o tema, menos o preconceito existirá sobre a cultura e suas peculiaridades”, ressalta.
Além da premiação na ONU, o trabalho também rendeu uma exposição coletiva em Genebra, Suíça, e participação em outras atividades da organização. André acredita que a oportunidade foi muito importante, principalmente para entender mais sobre as conexões do Brasil com a África e sobre como a arte pode atuar no apoio à garantia dos direitos humanos.