Aos 50 anos, ainda nos anos 1970, a empreendedora Selma Rocha saiu de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, e com seus dois filhos, Luis Fernando Campanella, então com 22 anos, e Ana Maria Campos, que tinha 19, fundou uma marca de sapatos na capital paulista.
Hoje, 40 anos depois, a Ferri já participou da São Paulo Fashion Week e fatura anualmente R$ 18 milhões. Agora, a terceira geração já se prepara para atuar no negócio.
A jornada empreendedora da matriarca começou com uma pequena loja multimarcas de calçados em Ribeirão Preto (SP). Porém, por causa do trabalho do marido, ela precisou se mudar para a capital com a família e não conseguiu seguir com os seus fornecedores. Rocha, então, pediu para que seu filho, que na época cursava Arquitetura, fosse para uma feira na Itália procurar novos fornecedores e conhecer mais sobre o mercado.
“Eu fiquei impressionado porque as maiores empresas que estavam na feira eram brasileiras e eu sempre fui muito curioso, gosto muito do processo de fabricação. Quando vi a qualidade do produto na feira percebi que o Brasil tinha esse potencial”, relembra Campanella.
De volta, o jovem decidiu conhecer as fábricas de calçados em Porto Alegre (RS) para desenvolver a sua própria coleção. Porém, percebeu que ali só se produzia em escala e que seu produto não se encaixava nesse modelo.
“Eu compreendi o segmento e quando voltei para São Paulo vi que nosso negócio era no modelo de manufatura. A minha mãe conhecia muito sapatos, ela já tinha em mente os produtos e eu fui atrás só de compreender todo o processo”, diz o empresário.
Assim, a família abriu a sua primeira loja em 1984, na alameda Tietê, no bairro Jardins, na capital paulista. Inicialmente, produziam cintos, depois faziam dois sapatos por dia (hoje a fábrica produz 50 pares). Depois, alguns sapateiros apareciam na loja após o expediente para ajudá-los. Todos os designs das peças eram pensados e elaborados por Rocha, e Campanella executava.
Com designers exclusivos de Campanella, hoje, a marca produz cintos, sapatos e bolsas com materiais como elastano, palha, couro e algodão, que precisam de processos manuais e industriais. Uma equipe de 20 colaboradores corta o couro na navalha, costura à mão e os bordados são feitos à mão ou na máquina. Tudo é feito no ateliê da Ferri, localizado na Vila Olímpia — mas quando preciso, algumas costuras e montagens de bolsas são terceirizadas.
“Hoje nós temos características industriais incluídas em nosso processo, mas a gente não abandonou o cuidado e carinho. Nós não temos preconceito nem com a baixa tecnologia e nem com a alta. O nosso desafio é encontrar a melhor resposta para aquilo que o produto demanda”, diz Campanella.
Com um público-alvo da classe A, tanto homens quanto mulheres de 30 a 80 anos, e um tíquete médio de R$ 1,7 mil, a marca está presente em Campinas (interior de São Paulo), Curitiba (PR) e em três shoppings na capital paulista: Morumbi, Higienópolis e Villa Lobos. Além disso, a Ferri está em outros 40 pontos de venda em diversas multimarcas nacionais e internacionais.
Hoje, Campanella, 62 anos, fica com a produção e desenvolvimento de produto, Campos, 59 anos, é responsável pelo comercial. Já Rocha, 90 anos, há quatro anos está distante do negócio. Os irmãos já estão preparando a terceira geração para assumir a Ferri que tem um faturamento anual de R$ 18 milhões, sendo 75% de vendas em varejo, 20% distribuídos em multimarcas e 5% de parcerias ou private label. Além disso, 15% da receita vem do e-commerce.
“Nós fazemos produtos atemporais, que se atualizam constantemente, de acordo com as transformações do mundo, mas nosso foco é equilibrar o melhor desenho, a melhor matéria-prima, no melhor processo produtivo. Nós temos relatos de sapatos que estão em gerações de famílias”, comenta o designer.
As informações são do site Pequenas Empresas & Grandes Negócios.