No próximo dia 20 de novembro, Salvador será palco da 21ª Caminhada da Liberdade, evento que marca o Dia da Consciência Negra com reflexões, celebrações e homenagens. Este ano, o Troféu Nobre Guerreira será entregue à atriz, cantora e ativista Zezé Motta, reconhecendo sua contribuição à arte e à luta contra o racismo ao longo de mais de cinco décadas de carreira. Durante conversa exclusiva com o Alô Alô Bahia, a artista compartilhou sua emoção em receber tal reconhecimento na capital baiana, cidade com a qual tem uma longa e profunda relação.
“Estar em Salvador no primeiro ano em que o 20 de novembro é feriado na Bahia é muito emocionante”, afirmou Zezé. “Essa data é crucial para refletirmos sobre a história do povo negro e sua luta pela liberdade no Brasil. Quando o Movimento Negro começou a discutir isso no Brasil, diziam que estávamos importando um problema dos Estados Unidos. E isso era dito a mim, que vivi o tempo em que negros não entravam pela porta principal de edifícios de luxo. É um orgulho enorme ver essa luta avançar”, pontuou a artista, que é uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado (MNU).
A Caminhada da Liberdade, que este ano destaca os 190 anos da Revolta dos Malês, também reforça a importância de preservar a memória das resistências negras. “A Revolta dos Malês foi a maior revolta de escravizados da história do Brasil, mobilizando cerca de 600 pessoas em Salvador. Esses eventos são essenciais para que nossa história seja lembrada e ensinada”, destacou Zezé.
Aos 80 anos, Zezé se mantém ativa, tanto nas telas quanto nos palcos, sem deixar de lado o ativismo. “Nunca parei. Estou há 55 anos em cena, trabalhando como nunca. Essas homenagens nos dão fôlego para continuar. Sem reconhecimento, é difícil seguir”, refletiu. Para ela, o Troféu Nobre Guerreira é um marco em sua trajetória e reforça seu vínculo com Salvador. “Já morei na cidade, fiz filmes, participei do desfile das Filhas de Gandhi e sou praticamente madrinha do Olodum. Minha estreia como cantora também foi aqui, no Vila Velha, com o disco ‘Muito prazer, Eu Sou Zezé’. Salvador sempre foi generosa comigo”, relembrou emocionada.
A atriz também recordou momentos marcantes, como o projeto Pixinguinha, ao lado de Luiz Melodia, em 1979, quando o teatro lotou e filas quilométricas se formaram do lado de fora. “Foi uma comoção! Fizemos duas sessões naquela noite. São lembranças que carrego com muito carinho”, disse.
Sobre a preservação da cultura negra e o combate ao racismo, Zezé enfatizou o avanço das pautas, mas alertou para a importância de continuar a luta. “Ainda há muito o que fazer. Quando fundamos o MNU, eu via a dificuldade de artistas negros serem reconhecidos. Isso me levou a criar, em 1984, o Cidan (Centro de Informação e Documentação do Artista Negro), um banco de dados com fotos e currículos de atores negros. Era um trabalho árduo, mas necessário para combater a invisibilidade”, contou.
A Caminhada da Liberdade terá início às 13h, na sede do Ilê Aiyê, no Curuzu, e seguirá até o Pelourinho, reunindo milhares de participantes de todo o Brasil e do exterior. “Ser homenageada neste evento é um privilégio e uma honra. Obrigada, Salvador”, finalizou Zezé.