‘Salvador sempre foi generosa comigo’, diz Zezé Motta ao ser homenageada no Dia da Consciência Negra

‘Salvador sempre foi generosa comigo’, diz Zezé Motta ao ser homenageada no Dia da Consciência Negra

Redação Alô Alô Bahia

redacao@aloalobahia.com

Tiago Mascarenhas

Caroline Lima

Publicado em 16/11/2024 às 12:53 / Leia em 3 minutos

No próximo dia 20 de novembro, Salvador será palco da 21ª Caminhada da Liberdade, evento que marca o Dia da Consciência Negra com reflexões, celebrações e homenagens. Este ano, o Troféu Nobre Guerreira será entregue à atriz, cantora e ativista Zezé Motta, reconhecendo sua contribuição à arte e à luta contra o racismo ao longo de mais de cinco décadas de carreira. Durante conversa exclusiva com o Alô Alô Bahia, a artista compartilhou sua emoção em receber tal reconhecimento na capital baiana, cidade com a qual tem uma longa e profunda relação.

“Estar em Salvador no primeiro ano em que o 20 de novembro é feriado na Bahia é muito emocionante”, afirmou Zezé. “Essa data é crucial para refletirmos sobre a história do povo negro e sua luta pela liberdade no Brasil. Quando o Movimento Negro começou a discutir isso no Brasil, diziam que estávamos importando um problema dos Estados Unidos. E isso era dito a mim, que vivi o tempo em que negros não entravam pela porta principal de edifícios de luxo. É um orgulho enorme ver essa luta avançar”, pontuou a artista, que é uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado (MNU).

Foto: Lucas Ramos/Brazil News

Foto: Lucas Ramos/Brazil News

A Caminhada da Liberdade, que este ano destaca os 190 anos da Revolta dos Malês, também reforça a importância de preservar a memória das resistências negras. “A Revolta dos Malês foi a maior revolta de escravizados da história do Brasil, mobilizando cerca de 600 pessoas em Salvador. Esses eventos são essenciais para que nossa história seja lembrada e ensinada”, destacou Zezé.

Aos 80 anos, Zezé se mantém ativa, tanto nas telas quanto nos palcos, sem deixar de lado o ativismo. “Nunca parei. Estou há 55 anos em cena, trabalhando como nunca. Essas homenagens nos dão fôlego para continuar. Sem reconhecimento, é difícil seguir”, refletiu. Para ela, o Troféu Nobre Guerreira é um marco em sua trajetória e reforça seu vínculo com Salvador. “Já morei na cidade, fiz filmes, participei do desfile das Filhas de Gandhi e sou praticamente madrinha do Olodum. Minha estreia como cantora também foi aqui, no Vila Velha, com o disco ‘Muito prazer, Eu Sou Zezé’. Salvador sempre foi generosa comigo”, relembrou emocionada.

Foto: Gabriel Soares

Foto: Gabriel Soares

A atriz também recordou momentos marcantes, como o projeto Pixinguinha, ao lado de Luiz Melodia, em 1979, quando o teatro lotou e filas quilométricas se formaram do lado de fora. “Foi uma comoção! Fizemos duas sessões naquela noite. São lembranças que carrego com muito carinho”, disse.

Sobre a preservação da cultura negra e o combate ao racismo, Zezé enfatizou o avanço das pautas, mas alertou para a importância de continuar a luta. “Ainda há muito o que fazer. Quando fundamos o MNU, eu via a dificuldade de artistas negros serem reconhecidos. Isso me levou a criar, em 1984, o Cidan (Centro de Informação e Documentação do Artista Negro), um banco de dados com fotos e currículos de atores negros. Era um trabalho árduo, mas necessário para combater a invisibilidade”, contou.

A Caminhada da Liberdade terá início às 13h, na sede do Ilê Aiyê, no Curuzu, e seguirá até o Pelourinho, reunindo milhares de participantes de todo o Brasil e do exterior. “Ser homenageada neste evento é um privilégio e uma honra. Obrigada, Salvador”, finalizou Zezé.

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