A Afrocidade vai soprar as dez velinhas do Afrobaile, nesta sexta-feira (8), em cima de um dos palcos mais respeitados de Salvador: a Senzala do Barro Preto. Sob as bençãos do Ilê Aiyê que, por coinciência ou predestinação, completou meio século uma semana antes, na sexta (1º), a banda percussiva faz a festa em mais uma edição do projeto, estrelado pelos convidados Jau, O Kannalha, Sued Nunes, Yan Cloud e Zamba, a partir das 21 horas, no Curuzu. Os últimos ingressos podem ser adquiridos on-line.
Eric Mazzone, líder da big band, define a sintonia de datas comemorativas com o Mais Belo dos Belos como uma “aláfia”. No jogo de búzios, aláfia, em iorubá, é o nome dado à queda de quatro búzios abertos, uma indicação de bons augúrios, de caminhos abertos.
“Realizar o Afrobaile em um solo sagrado como a Senzala do Barro Preto no mês e no ano em que o Ilê completa 50 anos de existência é uma demonstração do universo que a gente permanece no caminho certo e precisa continuar com nossa missão“, reflete Eric em conversa com o Alô Alô Bahia. Ele acredita que o esforço receber tantos artistas reafirma o propósito da Afrocidade de integrar gerações e linguagens artísticas, “todas oriundas da diáspora africana”.
Com a incrível marca de mais de trinta Afrobailes, Fernanda Maia, voz feminina da Afrocidade, relembra que o projeto surgiu “com a ideia da gente conseguir ter um espaço pra tocar, já que ninguém chamava”. “E hoje o Afrobaile é um conceito, né? As pessoas pensam, sabem e esperam do Afrobaile um espaço de acolhimento“, avalia ela. Para a musicista, a edição que ocorreu após a pandemia, no Pelourinho, com a presença do Afoxé Filhos de Gandhy é digna de nota por tudo que representou à época: a mensagem de paz e o arrefecimento da energia de desolação geral diante da doença desconhecida.
Mazzone vai além e revela, em primeira mão, que o grupo tem a intenção de seguir os passos do Mais Belo dos Belos. Com o show na casa do Ilê, a banda se aproxima cada vez mais do sonho de ser um bloco afro multiarticulado. “A Afrocidade surgiu com o desejo de se tornar uma espécie de bloco afro. De futuramente ter uma sede, de poder realizar ações para além de fazer um som nos palcos. A gente sempre acreditou na música como um meio de transformação. Como um entretenimento também, mas com os dois pés no fundamento, buscando trazer mensagens que toquem as pessoas, e as façam refletir sobre suas origens, os problemas sociais – e que se divirtam“, justifica ele.
Em setembro, a banda percussiva de Camaçari se amarrou a um dos maiores grupos de percussão baiana, a Timbalada, em um duo que deu em um dos shows mais elogiados do Coala Festival, em São Paulo. A influência dos timbaus vem desde o EP de estreia da Afrocidade, “Cabeça de Tambor” (2016), iluminado pelo clássico “Cada Cabeça É Um Mundo” (1994). Eles se reencontram no palco do Festival de Artes de São Cristóvão, em Sergipe, no dia 29 de novembro.
E sobre o ombro de gigantes, a big band tem gradualmente ficado mais big. “Tem ficado evidente que o nosso caminho é estar próximo desses desses grupos já consolidados, que abriram os caminhos para a gente chegar”, reconhece Eric Mazzone.