Dia do escritor: conheça seis baianos que se dedicam à arte de contar histórias

Dia do escritor: conheça seis baianos que se dedicam à arte de contar histórias

Redação Alô Alô Bahia

redacao@aloalobahia.com

Antonio Dilson Neto

Divulgação/Arte Alô Alô Bahia

Publicado em 25/07/2024 às 18:17 / Leia em 10 minutos

A humanidade, desde o princípio, tem a necessidade de se comunicar – e contar histórias. Essa demanda foi expressa de várias formas ao longo da história: pinturas rupestres, músicas, esculturas, fotografia e, claro a escrita.

Nesta quinta-feira (25), data que celebra os escritores, o Alô Alô Bahia conversou com alguns autores para conhecer suas carreiras, inspirações e, principalmente, suas histórias.

Amor antigo

Para Ricardo Ishmael, a criatividade vem de cedo, desde a infância. O ambiente onde cresceu, no município de Serrinha, fez brotar uma atenção especial ao mundo, que acabou se transformando em livros.

Foto: Divulgação

“Sou de uma família muito simples e numerosa: somos oito filhos. Meu pai é marceneiro, minha mãe, dona de casa e vendedora de cocadas e cachaças e esse ambiente quase rural onde cresci, de contato direto com lavrador, criadores de gado, a gente simples da roça, esse contato direto fez com que nascesse em mim a vontade de contar histórias. Ou recontar, transformar histórias reais em  ficção a partir de um olhar de ficcionista”, conta o jornalista, que lançou seu primeiro livro, “O Curioso destino de Rita“, em 2017, com contos de ficção ambientados no sertão nordestino.

“Desde criança eu sempre fui escritor”, conta Victor Sacramento, autor de “Quando o Quase Acontece, seu livro de estreia, lançado este ano. “Desde que entrei no mundo da literatura lendo Harry Potter, eu comecei a criar histórias de fantasia na minha cabeça mas nunca antes tinha levado esse processo até o final. Acho que essa vontade vem do gosto que eu sempre tive de ser tocado pelas palavras. Sempre quis fazer com que as pessoas também sentissem o que eu sentia enquanto lia, então, por que não eu mesmo colocar essas palavras no papel?”, acrescenta.

Foto: Divulgação

Embora o amor pelas histórias e pela literatura tenham fortes raízes na infância, em alguns casos, os autores demoram para se enxergar nessa posição. É o que conta Wynne Carvalho. 

“Nunca me imaginei escritora, não me via nesse lugar. A literatura sempre esteve presente na minha vida, desde criança, mas não via uma possibilidade. Até que vivi uma situação de racismo num lugar onde trabalhei. Eu estava com meu cabelo solto e uma pessoa entrou no elevador, tocou no meu cabelo e falou: ‘Nossa até que ele é macio’. E aquilo me chocou muito, essa liberdade que a pessoa achou que tinha. Voltando para casa, olhando pela janela do ônibus, vi muitas meninas e mulheres negras de cabelo alisado, de trança, ou com o cabelo bem preso. E aí me veio o nome da história: ‘A Menina dos Cabelos de algodão'”, conta Wynne.

Foto: Gabriela Morbeck

“Eu não tinha ânsia de ser escritora, acho que é a vida me me levou por esse caminho e eu tenho uma escrita como uma ferramenta de transformação social. Para mim, a escrita é uma arma de mudança do universo”, acrescentou.

Processo de escrita

Um assunto que sempre gera curiosidade nos leitores é o processo de escrita e produção de cada autor nas suas obras. Para Yasmin Oliveira, que estreou no universo literário em 2021 e já publicou outrs três livros, o processo é simples – mas caótico. “É só ter música no fone de ouvido. Eu sempre funciono no meio do caos e as ideias surgem de todo o canto”.

Para Felipe Ferreira, autor de “Griphos Meus”, “Desmembro” e “Cali-ce”, o processo ocupa o tempo todo. “Acho que só não escrevo quando tô dormindo porque o dia inteiro, de certa forma, eu tô escrevendo. Existe aquela coisa que está no imaginário coletivo de escritor de que você senta e escreve. Há uma romantização, uma coisa meio idílica, de que bate uma inspiração e a gente escreve. Na minha experiência, fui vendo que a escrita é cotidiana. O tempo todo o escritor está atento, observando coisas e reagindo a estímulos. A minha escrita é muito viva e muito orgânica. Tenho o hábito de anotar tudo, seja no papel, ou no bloco de notas do celular. A partir disso, às vezes uma frase, uma palavra até pode acabar acarretando um capítulo inteiro ou várias páginas”, comenta.

Foto: Victor Mota

“Costumo dizer que meu processo de escrita é um processo fragmentário ou fragmentado. Porque vou construindo minhas histórias a partir de pedaços de histórias e ideias”, conta Ricardo Ishmael. “Vou juntando tudo isso no como em uma grande colcha de retalhos e vou amadurecendo. Em geral, meus livros partem de elementos da vida real, porque sou jornalista, lido com essa matéria humana o tempo inteiro e esse processo ele vai se dando de uma forma lenta”, acrescenta.

Redes sociais

Além das páginas de papel, alguns autores se dedicam a colocar seus trabalhos das redes sociais. Edgard Abbehusen, escritor e jornalista, é um deles. “Minha relação com a internet é bastante intensa. Comecei a compartilhar meus textos online para atender a uma demanda acadêmica, um projeto de pesquisa na faculdade de Jornalismo. E aí não parei mais. A internet permite essa interação direta com os leitores, o que é extremamente enriquecedor”, diz.

Foto: Divulgação

Para Abbehusen, escrever para as redes sociais exige um estilo diferente da escrita tradicional. “É preciso ter uma concisão e um apelo visual que nem sempre são necessários nos livros. O consumo é rápido e a produção precisa ser ágil, o livro é o que fica para a eternidade. É o produto que vão pegar daqui a 50 anos e falarão sobre mim em algum lugar por esse mundo. É o que eterniza o escritor, seja ele bom ou ruim. Mas, particularmente, os dois formatos têm seu charme e importância”, afirma.

Nas redes sociais, também é possível criar laços com os leitores. Victor Sacramento e Yasmin Oliveira costumam interagir com os seguidores (e leitores) de maneira constante, criando conteúdos específicos sobre seus trabalhos atuais e futuros, mantendo uma conexão bem próxima do público.

Inspiração

Como todo escritor é, antes de tudo, um leitor. O Alô Alô Bahia perguntou aos entrevistados quem são suas maiores inspirações e referências literárias.

Ricardo Ishmael

“Sobretudo, Grande Sertão Veredas de João Guimarães Rosa. Esse é o livro que me foi um divisor de águas da minha vida. Uma história escrita nos anos de 1950 em princípio uma história entre dois homens que se apaixonam dois jagunços dos homens bravos dois homens que não aceitam aquele sentimento que não querem lidar com aquilo, né que estão vivendo que não sabem como como administrar aquele sentimento. Já li inúmeras vezes e pretendo ler ainda outras”.

Victor Sacramento

“Essa pergunta é muito difícil, eu sempre estou marcado pela minha última leitura. Mas acho que, olhando, em retrospecto é Harry Potter e a Câmara Secreta. Foi o livro que me jogou pra dentro do mundo da literatura e, sobretudo, fantástica. Meus autores favoritos além daqueles que se tornaram minhas referências são Dan Brown e Joe Hill”.

Wynne Carvalho

“Eu vou trazer dois. O primeiro é Um defeito de Cor, de Ana Maria Gonçalves. Acho que é um exercício que todo mundo precisa fazer de olhar para esse livro para essa história em entender muitas camadas sociais em ancestrais da nossa construção social. Esse livro tem um ensinamento a cada página e eu acho que é necessário que todo mundo tenha essa experiência. O segundo que vou citar é da Ryanne Leão, Tudo que nela brilha e queima, que chegou na minha vida em um momento muito especial, de redescobrimento e de entender o que eu queria para minha vida”

Yasmin Oliveira

“Com certeza Paula Pimenta, Gisela Bacelar e Elle Kennedy. De livros, tiveram alguns, mas Fazendo Meu filme sempre vai ter seu lugar especial no meu coração. 

Felipe Ferreira

“A Hora da Estrela de Clarice que é um livro que eu adoro. Já li várias vezes e cada vez que eu  é uma é uma experiência nova e inspiradora. Reencontrar com Macabéa sempre é diferente, nunca nunca vai ser o mesmo encontro. E tem também Pai, Pai, do João Silvério Trevisan. Me marcou profundamente: tanto pela escrita, como pela forma como ele aborda a relação com o pai”

Edgard Abbehusen

“Minhas maiores referências na literatura são Fernando Pessoa, Jorge Amado, Carpinejar, Rubem Alves, Raphael Montes e Caio Fernando de Abreu. Cada um deles, à sua maneira, influenciou e influencia meu estilo e minha forma de ver o mundo, me ensinando o poder das palavras e dos sentimentos. O livro que mais me marcou atualmente foi “Tudo é Rio” de Carla Madeira. Essa obra me tocou pela forma como aborda temas tão intensos e complexos como amor, perdão e redenção. A narrativa e os personagens são incrivelmente bem construídos, fazendo com que eu me sentisse parte daquela história. 

Futuro

Para as novas gerações de escritores, os entrevistados dão uma dica em consenso: ler é fundamental. Além disso, aqui estão alguns conselhos.

“Para quem tá começando a escrever agora saiba que escrever é massa. De verdade. Mas pra você ver o seu filho ali na sua mão, no final de todo o processo, demanda muito planejamento. Então antes de sentar pra escrever, pense bastante no que você quer escrever e no pra quem você quer escrever. Depois disso, solta a mão em cima do teclado que a mágica acontece. Se lembre também de ter humildade para aceitar os feedbacks dos seus leitores, afinal, você escreveu para eles”, diz Victor Sacramento.

Para Ricardo Ishmael, a chave é ter um olhar atento ao mundo e não apressar as coisas. “Eu digo sempre: conheçam muito do universo sobre sobre o qual quer escrever. É preciso conhecer o mundo, a natureza das coisas, dos comportamentos humanos. Sair um pouco de casa, andar pela rua, observar as pessoas permitir-se entrar em contato com o outro. Não tenham pressa em escrever, é preciso entender várias coisas antes”.

Felipe Ferreira comenta que paciência e releituras são o segredo. “Dificilmente você vai sentar e escrever um texto de uma vez, sem nenhuma alteração. O processo é esse: escrever, depois você voltar e ir montando um quebra-cabeça mesmo, porque o texto e as palavras têm um tempo próprio. Essa consciência é importante: É um processo e que não precisa se cobrar essa urgência. Escreva primeiro, depois releia, modifique o que você achar que deve ser modificado. O próprio texto vai te levar isso. É importante perceber”.

“Sempre teste seu conteúdo”, indica Yasmin Oliveira. “Com alguém, seja no Wattpad ou em outra plataforma. As críticas construtivas dessa época ainda voltam e me fizeram crescer muito para essa fase.

Por último, Edgard Abbehusen encoraja: “Minha dica para quem quer ser escritor é: comece escrevendo. Não espere pela inspiração perfeita ou pelo momento ideal. Escreva sobre o que você sente, o que observa, o que pensa. Não tenha medo de errar, de revisitar seus textos e de reescrever quantas vezes forem necessárias. Leia muito e diversifique suas leituras. E, acima de tudo, acredite no poder das suas palavras e na sua voz única”.

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