Simone costuma dizer que o Natal é mais do que uma data no calendário: é um estado de espírito que atravessa sua vida pessoal e artística há três décadas. Aos 76 anos, completados no próprio dia 25 de dezembro, a cantora celebra não apenas o aniversário, mas também os 30 anos de “Então é Natal”, a música mais longeva de sua carreira e uma das canções mais executadas do país neste período do ano. No topo dos rankings do Ecad como a música com a palavra “Natal” no título mais tocada nos últimos cinco anos no Brasil, o hit segue ecoando nas ruas, nas casas e nas memórias afetivas de diferentes gerações.
O sucesso da versão brasileira de “Happy Xmas (War Is Over!)”, clássico de John Lennon e Yoko Ono, só foi possível graças à autorização direta da artista japonesa, algo inédito até então. Gravada por Simone no álbum “25 de dezembro”, lançado em 1995, a canção ganhou letra de Claudio Rabelo e incluiu referências a Hiroshima e Nagasaki, o que pesou positivamente para a liberação.
“Ela deu permissão. Nunca tinha dado permissão para ninguém gravar nada deles. Nem autorizado nenhuma versão. Foi através dos advogados. Quando viu a letra com Hiroshima e Nagasaki… Foi bom ter, e gostou”, conta Simone, que não esconde a gratidão. “Gostaria de encontrá-la. Diria: ‘Muito obrigada’. Tenho gratidão não só pela música, mas pelo trabalho deles”.
A relação com o Natal, porém, nem sempre foi simples. Nascida no mesmo dia em que se celebra o nascimento de Jesus, Simone relembra uma infância marcada pela sensação de ter o próprio aniversário diluído pela data. “Claro que eu me senti sem aniversário, mas não brigava com Jesus, o grande símbolo”, diz. Com o tempo, essa disputa simbólica foi superada, e o Natal se transformou em um dos maiores símbolos de sua trajetória musical e pessoal.
Em entrevista recente ao videocast Conversa Vai, Conversa Vem, a cantora revelou que, todos os fins de ano, a pergunta que é feita nos primeiros versos da música – “e o que você fez?” – continua atual. “Estou abrindo para perguntar às pessoas nas redes, pelo site. Abrir essa possibilidade de conversar. Quero ouvir, dividir isso. Vou responder. Quero fazer uma corrente do bem”, afirma. Para ela, cantar “Então é Natal” é também um exercício de reflexão e esperança. “O que tenho feito nos últimos anos é plantar sementes que quero colher. A semente do amor”, reflete.
Apesar do carinho popular, a canção também foi alvo de rejeição e bullying ao longo dos anos. Simone relembra que enfrentou críticas agressivas e até tentativas de silenciamento. “O bullying é uma coisa de raiva, ódio. Não consigo lidar. Meme é o contrário. Mas eu sofro bullying desde que era criança”, desabafa. Segundo ela, a reação negativa ao lançamento do álbum foi desproporcional, mesmo com números expressivos de vendas. “Só de início o disco vendeu 3 milhões de cópias. Pediam para não ser tocada, me botaram com máscara no rosto como se eu fosse proibida de cantar”. Ainda assim, a resposta do público acabou se impondo ao tempo. “O amor vence e o povo que dá a resposta. A música está aí há 30 anos. Em primeiro lugar nas mais tocadas”.
No momento em que celebra a permanência desse clássico natalino, Simone também vive um presente criativo intenso. Ela acaba de lançar um feat com Carlinhos Brown, “Primeiro Amor Primeiro”, apontado como aposta para o próximo Carnaval, quando os dois devem dividir o palco. A canção fala sobre afetos que surgem fora do tempo convencional e dialoga diretamente com o momento pessoal da artista. “Não há idade para amar, para se interessar pelo outro, pela vida, pelo sexo, pelo prazer”, afirma. “Pode ser aos 60, 70, 75. O amor não tem idade, sexo… O amor ninguém vê. É como uma felicidade, você não vê, você sente”.