O Censo Condominial 2025/26 revela um retrato contraditório do setor no Brasil: enquanto o mercado cresce e movimenta mais de 500 mil trabalhadores, a remuneração dos síndicos segue baixa diante das responsabilidades do cargo, ao mesmo tempo em que os condomínios enfrentam recorde de inadimplência e aumento contínuo das taxas mensais. O levantamento foi consolidado a partir de dados do IBGE, da Receita Federal e da uCondo, startup especializada em tecnologia para gestão condominial que atende cerca de 6 mil condomínios no país.
A média nacional de remuneração dos síndicos é de R$ 1.520, considerando profissionais e moradores, com ou sem vínculo formal. O valor varia bastante entre os estados e chama atenção o desempenho da Bahia, que registra a maior média entre os principais mercados do país, com R$ 2.381. O valor supera estados como Rio de Janeiro (R$ 2.115), Santa Catarina (R$ 1.923) e São Paulo (R$ 1.311), indicando uma valorização relativa maior da função no estado. Minas Gerais aparece com média de R$ 1.189, Rio Grande do Sul com R$ 1.286 e Paraná com R$ 1.469.
Apesar disso, o levantamento aponta que a função ainda é subvalorizada em nível nacional. “A função de síndico é pouco valorizada no mercado, apesar da responsabilidade administrativa, financeira e jurídica que recai sobre quem ocupa o cargo”, comenta Léo Mack, cofundador e Diretor de Operações da uCondo. Segundo ele, a profissionalização pode ser um caminho para mudar esse cenário. “A especialização, por meio de cursos de gestão, finanças e legislação, pode ser uma boa saída para elevar a qualidade dos candidatos e criar argumentos concretos para a revisão da remuneração, além de ser uma solução para elevar também os serviços prestados”, sugere.
O cotidiano dos síndicos também é marcado pela gestão de conflitos e demandas operacionais. Apenas em 2025, os condomínios que utilizam a plataforma da uCondo registraram mais de 308 mil chamados. As solicitações administrativas lideram, com 92.931 registros, seguidas por reclamações de moradores (86.317) e pedidos de manutenção de áreas comuns (84.643). As dúvidas gerais somaram 27.327 ocorrências. Questões envolvendo animais de estimação também aparecem com destaque, totalizando 1.832 registros, sendo a maioria relacionada a barulho, higiene, circulação em áreas restritas e comportamentos considerados inadequados.
Em termos territoriais, o Brasil contabiliza 327.248 condomínios, onde vivem cerca de 39 milhões de pessoas. O Sudeste concentra mais da metade dessas unidades, com 178.483 condomínios, seguido pelo Sul (84.303). O Nordeste aparece em terceiro lugar, com 40.774 condomínios, o equivalente a 13% do total nacional, à frente do Centro-Oeste (17.582) e do Norte (3.803). Entre os estados, a Bahia ocupa posição de destaque, com 10.198 condomínios, figurando entre os sete maiores mercados do país, atrás apenas de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
O levantamento também evidencia o impacto financeiro sentido pelos moradores. A taxa condominial média nacional subiu de R$ 413 no primeiro semestre de 2022 para R$ 516 no primeiro semestre de 2025, uma alta de 24,9% no período. Paralelamente, a inadimplência com mais de 30 dias atingiu 11,95%, o maior índice da série histórica analisada. Os efeitos desse cenário incluem redução de caixa, adiamento de obras e maior dificuldade para cumprir contratos recorrentes.
Regionalmente, o Nordeste apresenta uma taxa condominial média de R$ 522,30 no primeiro semestre de 2025, acima da média nacional e próxima dos valores registrados no Sudeste (R$ 516,84) e no Centro-Oeste (R$ 514,51). Já a inadimplência na região é de 13,52%, superior à média brasileira e atrás apenas do Norte, que lidera o ranking com 18,44%. Todos os recortes regionais registraram aumento da inadimplência em relação a 2022, reforçando o alerta para a sustentabilidade financeira dos condomínios em todo o país.