A aquisição da Warner Bros. Discovery pela Netflix, anunciada nesta sexta-feira (5) em um negócio de US$ 82,7 bilhões, já provoca reações na indústria cinematográfica. O diretor brasileiro Kleber Mendonça Filho, premiado recentemente em Cannes, utilizou as redes sociais para rebater uma declaração de Ted Sarandos, co-CEO da plataforma de streaming, sobre o tempo de exibição de filmes nos cinemas.
Durante conferência com investidores de Wall Street após o anúncio da compra, Sarandos criticou o modelo atual de distribuição. “Minha principal objeção reside nos longos períodos de exclusividade, que, na nossa opinião, não são nada favoráveis ao consumidor”, afirmou o executivo, referindo-se à janela de tempo em que um longa permanece restrito às salas antes de migrar para o digital.
Sarandos ainda defendeu a estratégia da empresa: “Lançamos cerca de 30 filmes nos cinemas este ano, então não é como se tivéssemos alguma oposição aos filmes exibidos nos cinemas”.
Em resposta, Kleber Mendonça Filho, diretor de “O Agente Secreto”, saiu em defesa da experiência presencial. “O streaming é uma nova e espetacular forma de ver filmes, mas não pode ter o poder de acabar com a cultura da sala de cinema. São os cinemas que constroem o caráter e a história de um filme”, escreveu em sua conta no X (antigo Twitter).
O cineasta garantiu que manterá cláusulas contratuais rígidas para proteger suas obras. “Vou continuar garantindo em contrato uma janela de pelo menos 3 meses para meus filmes, podendo ser aumentada ou diminuída em comum acordo. Se as salas de cinema começarem a fechar, meu filme será exibido exclusivamente nas que irão permanecer e nos países que defenderem frontalmente a experiência de ir ao Cinema”, pontuou.
Ele ainda citou espaços tradicionais de resistência cultural no país, como o Cine Glauber Rocha, em Salvador, o São Luiz, no Recife, e o Cine Brasília, afirmando que, mesmo em um cenário de fechamento em massa, priorizaria a exibição física nessas locais por meses antes da liberação para o streaming.
Eu vou continuar garantindo em contrato uma janela de pelo menos 3 meses para meus filmes, podendo a janela ser aumentada ou diminuída em comum acordo. Se as salas de cinema começarem a fechar, meu filme será exibido exclusivamente nas que irão permanecer, e nos países que… https://t.co/HEfh3a4Sww
— Kleber Mendonça Filho (@kmendoncafilho) December 5, 2025
A megafusão
O embate ideológico ocorre no contexto de uma das maiores transações da história do entretenimento. A Netflix oficializou a compra da Warner Bros. Discovery em uma operação que combina dinheiro e ações, avaliando a WBD em US$ 27,75 por papel. O valor de mercado para os acionistas chega a US$ 72 bilhões.
Pelo acordo, os acionistas da Warner receberão US$ 23,25 em dinheiro e US$ 4,50 em ações da Netflix. O contrato prevê um mecanismo de ajuste financeiro para equilibrar a proporção das ações conforme a flutuação do mercado até o fechamento do negócio.