A Travessia Mar Grande-Salvador, palco onde a carreira de Ana Marcela Cunha deslanchou e lhe rendeu seis títulos, volta a ser o centro dos planos da nadadora. Desta vez, no entanto, a multicampeã olímpica e mundial utiliza o evento não para somar mais uma vitória, mas como peça-chave na preparação para um dos maiores desafios de sua trajetória: a travessia do Canal da Mancha.
Em entrevista ao ge, Ana Marcela revelou que o feito, que ligará a Inglaterra à França em um percurso de 33 quilômetros, está marcado para julho de 2026.
Neste sábado (29), na Travessia Mar Grande-Salvador, o público verá a baiana fazer um treino atípico. Ana Marcela propôs à organização um desafio de “bate e volta”, dobrando os 10 km da prova oficial.
“Eu sempre tive como realização, não competitiva, mas de desafio, fazer o Canal da Mancha. Estávamos sempre no alto rendimento de 10 km, mas o ano que vem não tem Campeonato Mundial, então conseguimos encaixar a travessia”, explicou a atleta.
Com a ideia de acumular quilometragem e simular o esforço necessário, a nadadora fará o percurso de ida e volta, enquanto os demais atletas completarão apenas o trecho da Praia do Duro até o Porto da Barra.
Prazer como novo propósito
Aos 33 anos, dona de um ouro olímpico em Tóquio-2021, 15 medalhas em Mundiais, duas em Pan-Americanos e sete em Jogos Sul-Americanos, Ana Marcela não projeta o fim da carreira por falta de paixão.
“Por mim, eu já poderia ter parado, essa é a verdade. Mas eu amo tanto, que acho que ainda posso dar alegrias”, afirmou.
A nadadora, que está no alto rendimento desde seu primeiro mundial aos 14 anos, agora busca metas guiadas pelo prazer e não mais pelo resultado. Ela detalhou que, ao longo do tempo, seu propósito mudou: “Não é resultado, é prazer de querer fazer isso. Meu propósito é fazer coisas que me fazem bem e dão alegria”.
O desafio da mente no escuro
O Canal da Mancha é conhecido pelas águas geladas e fortes correntezas, mas a nadadora aponta que o maior desafio será a solidão da travessia. “No Canal da Mancha vou nadar sozinha, não tem adversário, meu maior adversário vai ser a minha cabeça. É isso que vamos tentar simular um pouco também”, garantiu a multicampeã, que se acostumou a nadar em meio à intensa competição.
Como parte da preparação para enfrentar o desafio mental da prova europeia, Ana Marcela revelou ainda outro teste inusitado para o próximo ano: nadar por 12 horas seguidas, das 20h às 8h, na Represa Billings, em São Paulo. “É justamente aquele desafio da cabeça, é no escuro. Nunca nadei por tanto tempo, vai ser um desafio e tanto”, projetou.
Questionada sobre a possibilidade de participar dos Jogos de Los Angeles em 2028, Ana Marcela evitou compromissos de longo prazo, adotando uma visão “ano a ano” para sua continuidade no alto rendimento.
“Pensar no longo prazo quando eu tinha 18 anos era fácil, mas hoje com tanta carga é um pouco mais difícil. O que tem me mantido no esporte de alto rendimento é pensar o que eu vou fazer no próximo ano”, explicou.
A nadadora não descartou a presença em Los Angeles, mas finalizou com serenidade: “Se eu chegar na seletiva olímpica bem e pegar uma vaga, vou ficar muito feliz e vou tentar pegar uma medalha. Mas seu eu não chegar, pode ter certeza que vou estar muito feliz também”.