Todas as ararinhas-azuis em vida livre na Bahia testam positivo para vírus letal, confirma ICMBio

Todas as ararinhas-azuis em vida livre na Bahia testam positivo para vírus letal, confirma ICMBio

Redação Alô Alô Bahia

redacao@aloalobahia.com

Tiago Mascarenhas, com informações do g1

Camile Lugarine

Publicado em 27/11/2025 às 09:20 / Leia em 4 minutos

As 11 ararinhas-azuis reintroduzidas em Curaçá, no norte da Bahia, foram diagnosticadas com circovírus, agente causador da Doença do Bico e das Penas dos Psitacídeos (PBFD). O resultado foi confirmado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) após a recaptura das aves no início de novembro. É o primeiro registro da doença em exemplares de vida livre no Brasil.

O circovírus não tem cura e costuma ser fatal. As aves infectadas podem apresentar alterações na coloração e na estrutura das penas, deformações no bico e falhas no empenamento. O vírus não oferece risco a humanos nem a aves de produção. Até o surgimento do caso, não havia registros da doença afetando ararinhas-azuis soltas na natureza.

A população examinada foi liberada em 2022, como parte do Programa de Reintrodução da Ararinha-Azul, que devolveu à Caatinga a espécie considerada extinta na natureza até então. Com o avanço do vírus, a soltura de um novo grupo, prevista para julho deste ano, foi suspensa. Segundo o ICMBio, os próximos passos incluem a separação entre aves positivas e negativas, além do reforço de protocolos de biossegurança no manejo.

O instituto conduz investigações para identificar a origem da contaminação. A partir do primeiro caso confirmado, em maio, foi instaurado um Sistema de Comando de Incidente para evitar a disseminação do vírus para outras espécies de psitacídeos da região. Durante as inspeções do ICMBio, realizadas com o Inema e a Polícia Federal, foram constatadas falhas graves no criadouro responsável pelo programa em Curaçá, administrado pela empresa BlueSky.

A empresa recebeu multas que somam cerca de R$ 1,8 milhão, após a constatação de que as rotinas de limpeza e desinfecção não estavam sendo cumpridas. Utensílios usados na alimentação das aves estavam sujos e com acúmulo de fezes. Funcionários também foram flagrados sem equipamentos de proteção individual durante o manejo. O criadouro, parceiro da organização alemã ACTP, já havia sido alvo de autuações do Inema que totalizam aproximadamente R$ 300 mil.

Para a coordenadora de Emergências Climáticas e Epizootias do ICMBio, Cláudia Sacramento, o descumprimento das normas de biossegurança contribuiu para a disseminação do vírus entre todos os indivíduos reintroduzidos. Ela afirma que a prioridade agora é controlar o cenário sanitário e evitar riscos a outras aves silvestres.

A Doença do Bico e das Penas possui evolução variável. Em filhotes, pode provocar apenas diarreia; em aves jovens, altera o desenvolvimento das penas e pode comprometer ossos; já em indivíduos mais velhos, causa deformações, mudanças de cor e inflamações dolorosas no bico. A expectativa de vida de aves infectadas costuma variar entre seis meses e um ano.

Reintroduzidas em sua região de origem, as ararinhas-azuis são as menores entre as araras, medem cerca de 55 cm e pesam em torno de 350 gramas. De comportamento ruidoso, vivem em grupo e se alimentam principalmente de sementes, como pinhão e frutos de favela. O período reprodutivo ocorre entre novembro e maio, acompanhando a temporada de chuvas em Curaçá.

Com vida média de 30 anos, as ararinhas atingem a maturidade reprodutiva aos quatro e seguem se reproduzindo até cerca de 24 anos. A incubação dura em torno de 26 dias, e os filhotes deixam o ninho após cerca de 90 dias, quando começam a ser estimulados pelos pais a procurar alimento, fase em que são mais vulneráveis a predadores como saruês, serpentes e aves de rapina.

O ICMBio ressalta que o projeto de reintrodução permanece ativo, mas só será retomado quando houver segurança sanitária para novas solturas.

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