A Bahia de Jimmy Cliff: ícone do reggae parte deixando história com Salvador

A Bahia de Jimmy Cliff: ícone do reggae parte deixando história com Salvador

Redação Alô Alô Bahia

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Reprodução/Redes Sociais

Publicado em 24/11/2025 às 09:56 / Leia em 4 minutos

A morte de Jimmy Cliff, aos 81 anos, reacende na Bahia memórias afetivas, musicais e culturais que atravessam décadas. Mais do que um visitante ilustre, o jamaicano estabeleceu com Salvador uma conexão profunda, artística, espiritual e familiar, que o transformou em um personagem querido e parte da própria história do reggae na cidade.

O artista desembarcou na Bahia no fim dos anos 1970 e voltou diversas vezes ao longo da década de 1980, período em que o reggae começava a ganhar corpo na capital. Sua primeira apresentação marcante no estado aconteceu ao lado de Gilberto Gil, em um show na Arena Fonte Nova, para 60 mil pessoas, que simbolizou a ponte cultural entre Jamaica e Bahia.

Na virada dos anos 1980 para os 1990, Jimmy Cliff estreitou relações com o Olodum, bloco afro que revolucionaria a música baiana. Ele participou do Festival de Música e Arte Olodum (Femadum), em 1990, e consolidou a parceria ao gravar em Salvador partes do álbum “Breakout” (1992).

Dessa fase nasceu uma das sínteses mais potentes da relação entre o artista e a cidade, o clipe “Samba Reggae”, que une a cadência jamaicana à pulsação dos tambores do Pelourinho. O conteúdo, gravado nas ruas do Centro Histórico, se tornou um registro afetivo da Salvador daquela época, colorida, vibrante, pulsante.

Em nota, o Olodum disse lamentar profundamente o falecimento de Cliff, “ícone mundial do reggae e artista cuja obra exerceu influência decisiva na música e na cultura afro-diaspórica”. No texto, o bloco afro diz que o jamaicano “deixou um legado de diálogo entre povos, defesa da paz, valorização das raízes e afirmação cultural” e que “sua trajetória também marcou a Bahia e especialmente o Olodum, já que tivemos o privilégio de gravar com ele duas músicas, ‘Reggae Odoya’ e ‘Woman No Cry’, nos anos 90”.

A colaboração com o Olodum e com o Araketu ajudou a projetar o samba-reggae internacionalmente e reforçou o papel de Jimmy Cliff como um embaixador espontâneo da musicalidade baiana.

Vida em Salvador e raízes familiares de Jimmy Cliff

A relação do artista com a Bahia não se resume à música. Jimmy Cliff morou por um período em Salvador, imergindo no cotidiano da cidade e construindo laços pessoais profundos. Foi na capital baiana que nasceu sua filha, Nabiyah Be, atriz e cantora que mais tarde integraria o elenco de “Pantera Negra”, da Marvel.

Nabiyah cresceu na Bahia e seu próprio relato reforça o quanto Salvador faz parte da trajetória familiar de Cliff. A mãe da artista, a psicóloga baiana Sônia Gomes, e Jimmy Cliff escolheram manter a filha próxima da cidade, reconhecendo na capital baiana um ambiente que dialogava com sua ancestralidade e identidade negra.

Jimmy Cliff com o produtor, engenheiro de som e fundador do lendário Estúdio WR, em Salvador | Foto: Reprodução/Redes Sociais

O próprio encontro entre Cliff e Sônia já é hoje parte do folclore afetivo da música baiana, marcado por uma vivência espiritual compartilhada e por conexões com artistas locais, uma Salvador que, naquela época, fervilhava de efervescência cultural.

O reggae encontrou terreno fértil na Bahia e Jimmy Cliff teve papel central nesse processo. Sua presença constante na cidade, seus shows, suas parcerias e até sua vida cotidiana em Salvador contribuíram para consolidar o gênero como uma das identidades musicais da capital. Além disso, sua relação com músicos baianos inspirou gerações. Artistas como Lazzo Matumbi, por exemplo, mantiveram diálogos musicais com Cliff e ajudaram a transformar a Bahia em um dos polos do reggae no Brasil.

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