A história entre Tony Tornado e Arlete Salles, vivida nos anos 1970, segue marcada não apenas pela intensidade do relacionamento, mas também pelo preconceito que os cercou. O casal esteve junto de 1970 a 1977, período em que a relação interracial enfrentou forte resistência social. Hoje, aos 95 anos, Tony revisita esse capítulo com lucidez e certa mágoa ao lembrar como o racismo moldou parte da experiência que viveram.
Em entrevista à BBC, o ator contou que, por anos, ouviu críticas por se relacionar com uma mulher branca. Segundo ele, havia quem questionasse sua militância e sua postura pública por causa do casamento com Arlete, atualmente com 87 anos e no ar em “Três Graças”. “As pessoas falavam que eu fazia discursos e era casado com uma loira. Como se uma coisa anulasse a outra”, recordou. “O que existia ali era amor, uma paixão enorme. Eu queria que entendessem isso.”
Tony conta ainda que, no auge do relacionamento, presenteou Arlete com o galo de ouro que conquistou no festival de 1970 — gesto que, à época, também gerou comentários maldosos. “As pessoas não compreendiam o que sentíamos. Ela enfrentou tudo ao meu lado. É uma mulher extraordinária, por quem tenho profundo carinho.”
Arlete já havia falado sobre esse período em 2021, durante entrevista a Pedro Bial. Na ocasião, descreveu a hostilidade que enfrentou por ter se envolvido com um homem negro. Contou que foi surpreendida pela intensidade da violência racial que passou a sofrer e que, por algum tempo, sentiu-se afundar em meio às agressões. A atriz disse que encontrou no trabalho uma saída para seguir adiante. Naquele momento, interpretava Laura em “Selva de Pedra”, de 1986, e se dedicou ao personagem como quem se apoia em algo sólido para não desmoronar.