A Cia Baiana de Patifaria estreará nos palcos um espetáculo autoral inédito após mais de uma década sem novos lançamentos. O grupo, responsável por montagens icônicas como A Bofetada, Siricotico, Fanta e Pandora e Vaca Lelé, prepara sua décima produção, intitulada “A Vida é um Cabaré”, com estreia prevista para o segundo semestre de 2026, graças ao financiamento de edital publicado da Fundação Gregório de Mattos.
Em entrevista exclusiva ao Alô Alô Bahia, Lelo Filho, ator, diretor, produtor e administrador da companhia, celebrou a aprovação do projeto, que vinha sendo tentado há mais de uma década. “Estamos muito felizes. Foram 11 anos tentando editais, desde a pandemia e passando por leis como Aldir Blanc e Paulo Gustavo, sem conseguir aprovar nada. Agora deu certo, e podemos retomar um projeto que é embrionário desde 2014”, contou.
Neste período, a Cia chegou a anunciar o fim das atividades, em 2021.
Inicialmente, a companhia pretendia estrear o espetáculo em março de 2026, mas, após reunião com a Fundação Gregório de Mattos, o calendário foi flexibilizado e a estreia passou para julho. O teatro que receberá a montagem ainda está em definição. Para Lelo, esse novo capítulo chega em um momento simbólico. “Estamos muito felizes de reunir artistas tão talentosos e colocar de pé a nossa décima peça justamente no ano em que completaremos 39 anos. É um projeto importante para todos nós.”
Enredo inovador
O espetáculo marca a volta da companhia ao formato musical, mas seguindo uma estrutura distinta das experiências anteriores, como Noviças Rebeldes e Vaca Lelé. Em vez de usar as canções para narrar a história de forma linear, a montagem incorpora músicas de diferentes épocas do cancioneiro brasileiro a partir de um conceito mais atmosférico, evocando referências como o filme Cabaré (1972), Chicago e influências de Woody Allen e Pedro Almodóvar.
“Vamos dialogar com o universo dos cabarés, mas não se trata de uma adaptação. As músicas vão integrar a trama, mas não contam a história diretamente”, explicou Lelo.
A narrativa se sustenta em dois territórios fictícios, Utopia e Distopia, que funcionam como espelhos críticos da realidade brasileira. Em Utopia, as protagonistas são irmãs gêmeas que herdam um teatro endividado após a morte dos pais e precisam encontrar maneiras de mantê-lo de pé. Distopia, por sua vez, apresenta um cenário de censura, fechamento de livrarias e venda de teatros. Mesmo ambientada em universos imaginários, a peça pretende comentar temas contemporâneos, seguindo a tradição da companhia de tratar assuntos atuais em contextos deslocados, como já acontecia em Siricotico. “É uma comédia, naturalmente, mas vamos discutir o dia a dia, as inquietações do momento, como sempre fizemos”, disse ele.
Elenco de peso
A dramaturgia, atualmente em finalização, é escrita por Lelo Filho em parceria com Vini Moraes, com quem dividiu Siricotico e parte do processo inicial de Fora da Ordem.
O elenco reúne o trio já em cartaz com Fanta e Pandora – Lelo Filho, Rodrigo Villa e Maurício Martins – e ganha reforço de dois jovens talentos, Mano Leone e João Victor Sobral. Lelo afirma que acompanha a nova geração do teatro baiano de perto e que esses dois nomes lhe chamaram especialmente a atenção.
“Tenho visto muito teatro baiano e muitos talentos da Escola de Teatro da UFBA. Esses atores me impressionaram. João Victor acompanho desde muito cedo; ele participou da parte filmada de Fora da Ordem. Sempre quis trabalhar com ele”, afirmou.
A direção ficará sob a condução de Daniel Marques, de 25 anos, cuja trajetória chamou a atenção de Lelo pela versatilidade e pela proximidade com o ator e diretor Harildo Deda nos últimos anos de sua carreira.
A produção reúne ainda Gabriel Mercury, filho da cantora Daniela Mercury, na direção musical, Manuela Rodrigues na preparação vocal, Maurício Martis no figurino e cenografia sob responsabilidade de Maurício Pedrosa. A iluminação ficará sob responsabilidade de Eduardo Tudella, enquanto a produção executiva permanece com Marcos Motta, parceiro da companhia há 25 anos.