O governo federal pretende transformar o Rio São Francisco em uma nova rota de transporte de cargas, ligando Pirapora (MG) a Juazeiro (BA) e Petrolina (PE). O projeto da Hidrovia do Rio São Francisco, com 1.371 quilômetros de extensão, pode movimentar até 5 milhões de toneladas de cargas por ano já no início das operações, segundo estimativas do Ministério de Portos e Aeroportos (Mpor). A licitação está prevista para o final de 2026, informou o Valor Econômico.
Os estudos técnicos e econômicos são conduzidos pela Companhia Docas do Estado da Bahia (Codeba), com modelagem da Infra S.A.. A definição do investimento total e do potencial econômico dependerá da conclusão dessas análises.
Entre as principais cargas previstas estão soja, milho, café, sal, ferro, gesso, gipsita, calcário e insumos agrícolas. O plano inclui ainda 17 instalações portuárias de pequeno porte ao longo do rio.
A implantação será feita em duas fases. A primeira, de 527 km, vai de Juazeiro/Petrolina até Ibotirama (BA), passando pelo lago de Sobradinho, já navegável e com eclusa. Segundo Dino Antunes Batista, secretário nacional de Hidrovias e Navegação, o trecho pode operar ainda em 2026, após batimetria e sinalização do canal.
A segunda fase abrange duas etapas: Ibotirama a Bom Jesus da Lapa/Cariacá (172 km) e Bom Jesus da Lapa a Pirapora (672 km), que exigirão dragagem e revitalização do leito devido ao assoreamento. Já o trecho entre Juazeiro/Petrolina e a foz do rio não é navegável por falta de eclusas nas barragens.
Para o presidente da Federação das Indústrias da Bahia (Fieb), Carlos Henrique Passos, a viabilidade do projeto depende da integração com ferrovias e rodovias. “Juazeiro está a mais de 500 km de Salvador e do Porto de Aratu. Precisamos da requalificação da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) para formar um corredor logístico viável”, afirmou.
A FCA, operada pela VLI Multimodal, tem velocidade média de 11 km/h e trechos desativados. A concessionária firmou acordo para prorrogar o contrato até 2056 e investir R$ 30 bilhões, com as obras ainda sob análise da ANTT.
A Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), em Cariacá (BA), também deverá ser conectada ao projeto, assim como o futuro Porto Sul, em Ilhéus (BA). Outra opção estudada é um novo ramal ligando a Fiol em Jequié (BA) ao Porto de Aratu.
Do lado pernambucano, cargas descarregadas em Petrolina poderão seguir pela BR-407 até Salgueiro (PE) e, de lá, pela Transnordestina até o Porto do Pecém (CE).
Segundo Maurício Laranjeira, da Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe), a hidrovia pode impulsionar a indústria de grãos, avicultura e suinocultura no estado. “Tudo vai depender do corredor logístico integrado à hidrovia apresentar um custo competitivo”, destacou.