‘Dinheiro não garante status’, diz Michel Alcoforado ao refletir sobre ‘Coisa de Rico’ em evento do Alô Alô Bahia

‘Dinheiro não garante status’, diz Michel Alcoforado ao refletir sobre ‘Coisa de Rico’ em evento do Alô Alô Bahia

Redação Alô Alô Bahia

redacao@aloalobahia.com

Gabriel Moura

Elias Dantas/Alô Alô Bahia

Publicado em 06/11/2025 às 21:28 / Leia em 4 minutos

O antropólogo Michel Alcoforado, conhecido por estudar os hábitos da elite e pelo recém-lançado livro “Coisa de Rico”, foi o palestrante principal do Evento de Fim de Ano do Alô Alô Bahia, nesta quinta-feira (6), em Salvador, e apresentou uma análise bem-humorada e crítica sobre a forma como os ricos brasileiros se enxergam e se comportam.

Alcoforado afirmou que, ao contrário do que muitos imaginam, parte da elite recebeu bem o livro, e que suas maiores vendas ocorreram justamente em áreas de alto padrão, como shoppings na região da Faria Lima e do JK Iguatemi, em São Paulo. Segundo ele, havia um interesse real da elite em entender como parecer ainda mais rica, mesmo já pertencendo a esse grupo. O antropólogo contou que ouviu de pessoas listadas entre os mais ricos do Brasil que reconheciam os comportamentos descritos no livro, mas nunca como algo relacionado a elas próprias.

“Os ricos sempre diziam que não eram ricos. Sempre apontavam outro para dizer que era o verdadeiro rico”, relatou, citando ainda que, no Brasil, quem ganha 100 mil reais costuma afirmar que rico é quem recebe 200 mil, e assim sucessivamente.

Durante a palestra, Alcoforado citou o exemplo de personalidades como Luiza Trajano, que já afirmou publicamente não se considerar a mulher mais rica do país. Ele destacou que, em outros lugares do mundo, pessoas de alta renda não costumam negar a própria riqueza, mas no Brasil o discurso é de um suposto pertencimento à classe média.

O antropólogo defendeu que dinheiro, sozinho, não garante status. Disse que riqueza depende, também, de ser reconhecido como alguém que pertence a esse universo. Para ele, é preciso convencer os outros, caso contrário o indivíduo não acessa convites, espaços sociais e privilégios simbólicos associados ao grupo.

“A vida do rico é duríssima”, brincou, ao comentar que, no Brasil, ostentar faz parte do jogo social, mas a performance da riqueza vai além dos bens materiais. Segundo Alcoforado, o dinheiro representa apenas 25% dessa equação, que também envolve escolhas como roupas, carros, joias, restaurantes frequentados e relações sociais.

Ele observou que essa lógica influencia todas as classes, e que pessoas de menor renda também se veem pressionadas a aparentar um padrão acima do que possuem. Em suas palavras, os brasileiros vivem voltados para a construção de uma imagem de status, o que atravessa diferentes contextos sociais.

Michel Alcoforado no palco do Evento de Fim de Ano do Alô Alô Bahia ao lado de Rita Batista – Foto: Elias Dantas/Alô Alô Bahia

A relação entre “novos” e “velhos” ricos foi outro ponto abordado. Alcoforado descreveu o cenário como um conflito constante de valores e referências. Disse que novos ricos são frequentemente vistos como cafonas pelos tradicionais, enquanto os tradicionais são chamados de falidos pelos recém-enriquecidos. Explicou que o casamento entre os dois grupos raramente funciona, pois cada um carrega uma visão distinta sobre riqueza. Os novos ricos, afirmou, sentem a necessidade de marcar o momento em que enriqueceram e, por isso, destacam marcas, preços e compras internacionais. Já os tradicionais buscam reforçar que “sempre foram” elite, valorizando heranças, objetos antigos, fazendas de família e referências ao passado.

Alcoforado pontuou que, embora os novos ricos sejam associados à ostentação evidente, os tradicionais também ostentam, mas de forma mais codificada, por meio de símbolos que nem sempre são percebidos por quem está fora desse universo. Para ele, a diferença está no código, não no comportamento.

Encerrando sua fala, o antropólogo afirmou que o brasileiro está sempre olhando para cima em termos de status. Mesmo quando alcança um novo padrão de vida, tende a buscar referências ainda mais altas e passa a comparar-se com grupos com os quais nunca imaginou competir. Para Alcoforado, é essa busca permanente que faz com que, no país, quase ninguém se considere verdadeiramente rico.

O evento de final de ano do Alô Alô Bahia é apresentado pela Costa do Sauípe e tem patrocínio da Moura Dubeux, Artefacto, Kachepot, Shopping da Bahia, Sabin, Melissa, Ecoari, Cristalli e AMB Business’n Fun. Além disso, conta com apoio institucional do Governo do Estado e Prefeitura de Salvador e apoio do Palacete Tirachapéu, Vinícola UVVA, Uranus, Preta Tirachapéu, Fernanda Brinço, Suporte Eventos, Pitta Segurança e Ticketmaker.

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