O antropólogo Michel Alcoforado, conhecido por estudar os hábitos da elite e pelo recém-lançado livro “Coisa de Rico”, foi o palestrante principal do Evento de Fim de Ano do Alô Alô Bahia, nesta quinta-feira (6), em Salvador, e apresentou uma análise bem-humorada e crítica sobre a forma como os ricos brasileiros se enxergam e se comportam.
Alcoforado afirmou que, ao contrário do que muitos imaginam, parte da elite recebeu bem o livro, e que suas maiores vendas ocorreram justamente em áreas de alto padrão, como shoppings na região da Faria Lima e do JK Iguatemi, em São Paulo. Segundo ele, havia um interesse real da elite em entender como parecer ainda mais rica, mesmo já pertencendo a esse grupo. O antropólogo contou que ouviu de pessoas listadas entre os mais ricos do Brasil que reconheciam os comportamentos descritos no livro, mas nunca como algo relacionado a elas próprias.
“Os ricos sempre diziam que não eram ricos. Sempre apontavam outro para dizer que era o verdadeiro rico”, relatou, citando ainda que, no Brasil, quem ganha 100 mil reais costuma afirmar que rico é quem recebe 200 mil, e assim sucessivamente.
Durante a palestra, Alcoforado citou o exemplo de personalidades como Luiza Trajano, que já afirmou publicamente não se considerar a mulher mais rica do país. Ele destacou que, em outros lugares do mundo, pessoas de alta renda não costumam negar a própria riqueza, mas no Brasil o discurso é de um suposto pertencimento à classe média.
O antropólogo defendeu que dinheiro, sozinho, não garante status. Disse que riqueza depende, também, de ser reconhecido como alguém que pertence a esse universo. Para ele, é preciso convencer os outros, caso contrário o indivíduo não acessa convites, espaços sociais e privilégios simbólicos associados ao grupo.
“A vida do rico é duríssima”, brincou, ao comentar que, no Brasil, ostentar faz parte do jogo social, mas a performance da riqueza vai além dos bens materiais. Segundo Alcoforado, o dinheiro representa apenas 25% dessa equação, que também envolve escolhas como roupas, carros, joias, restaurantes frequentados e relações sociais.
Ele observou que essa lógica influencia todas as classes, e que pessoas de menor renda também se veem pressionadas a aparentar um padrão acima do que possuem. Em suas palavras, os brasileiros vivem voltados para a construção de uma imagem de status, o que atravessa diferentes contextos sociais.

Michel Alcoforado no palco do Evento de Fim de Ano do Alô Alô Bahia ao lado de Rita Batista – Foto: Elias Dantas/Alô Alô Bahia
A relação entre “novos” e “velhos” ricos foi outro ponto abordado. Alcoforado descreveu o cenário como um conflito constante de valores e referências. Disse que novos ricos são frequentemente vistos como cafonas pelos tradicionais, enquanto os tradicionais são chamados de falidos pelos recém-enriquecidos. Explicou que o casamento entre os dois grupos raramente funciona, pois cada um carrega uma visão distinta sobre riqueza. Os novos ricos, afirmou, sentem a necessidade de marcar o momento em que enriqueceram e, por isso, destacam marcas, preços e compras internacionais. Já os tradicionais buscam reforçar que “sempre foram” elite, valorizando heranças, objetos antigos, fazendas de família e referências ao passado.
Alcoforado pontuou que, embora os novos ricos sejam associados à ostentação evidente, os tradicionais também ostentam, mas de forma mais codificada, por meio de símbolos que nem sempre são percebidos por quem está fora desse universo. Para ele, a diferença está no código, não no comportamento.
Encerrando sua fala, o antropólogo afirmou que o brasileiro está sempre olhando para cima em termos de status. Mesmo quando alcança um novo padrão de vida, tende a buscar referências ainda mais altas e passa a comparar-se com grupos com os quais nunca imaginou competir. Para Alcoforado, é essa busca permanente que faz com que, no país, quase ninguém se considere verdadeiramente rico.
O evento de final de ano do Alô Alô Bahia é apresentado pela Costa do Sauípe e tem patrocínio da Moura Dubeux, Artefacto, Kachepot, Shopping da Bahia, Sabin, Melissa, Ecoari, Cristalli e AMB Business’n Fun. Além disso, conta com apoio institucional do Governo do Estado e Prefeitura de Salvador e apoio do Palacete Tirachapéu, Vinícola UVVA, Uranus, Preta Tirachapéu, Fernanda Brinço, Suporte Eventos, Pitta Segurança e Ticketmaker.