Zohran Mamdani, eleito prefeito de Nova York nesta terça-feira (4), entra para a história como o primeiro prefeito muçulmano da cidade, o mais jovem desde 1892 e o primeiro nascido na África a assumir o cargo. A vitória é marcante não apenas pela quebra de barreiras, mas também por ter derrotado nomes tradicionais como o ex-governador Andrew Cuomo, apesar de ter iniciado a campanha com pouca visibilidade e sem apoio institucional do Partido Democrata.
Mamdani se apresenta como um representante da ala mais à esquerda do partido. Jovem, conectado às redes sociais e com um discurso centrado em creches públicas, expansão do transporte e regulação de mercados, ele ganhou força entre trabalhadores e minorias, sem abrir mão de pautas culturais progressistas. Essa combinação, porém, já o coloca no centro de controvérsias nacionais.
Críticos conservadores tentam associá-lo à “extrema-esquerda” e aliados de Donald Trump indicam que qualquer tropeço administrativo será usado como exemplo contrário ao avanço de políticas socialistas. Ao mesmo tempo, setores do próprio partido podem representar obstáculos: a governadora Kathy Hochul já se mostrou contrária ao aumento de impostos para financiar seus programas, e Mamdani precisará negociar com o empresariado de Nova York, que ele frequentemente criticou durante a campanha.
O novo prefeito também chamou atenção internacional ao condenar a atuação de Israel na guerra em Gaza e afirmar que prenderia o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu caso pisasse na cidade, promessa que poderá voltar ao debate durante seu mandato.
Quem é Zohran Mamdani?
Nascido em Kampala, Uganda, e filho de pais indianos, Mamdani mudou-se para Nova York aos 7 anos. Elegeu-se deputado estadual pelo Queens em 2021, tornando-se conhecido por sua identidade como imigrante e muçulmano e por se declarar “socialista democrático”, defendendo maior peso da voz dos trabalhadores sobre interesses corporativos. Seu posicionamento é semelhante ao de figuras como Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez, com quem costuma dividir palanque.
Durante a campanha, Trump chegou a ameaçar cortar fundos federais caso Nova York elegesse um “comunista”. Mamdani ironizou o rótulo ao dizer, em um programa de TV, que era “meio que um político escandinavo, só que mais moreno”.
Mesmo com a repercussão nacional de sua eleição, pesquisas indicam que quase metade dos americanos ainda não o conhece. Isso representa tanto oportunidade quanto risco: Mamdani precisará definir sua imagem antes que opositores façam isso por ele.
Ele também terá que construir alianças internas, inclusive com democratas que não o apoiaram, e provar que sua plataforma é viável diante das limitações de poder inerentes ao cargo, algo que já frustrou administrações anteriores, como a de Bill de Blasio.