Geleira na Antártida perde 8 km de gelo em dois meses; entenda os impactos

Geleira na Antártida perde 8 km de gelo em dois meses; entenda os impactos

Redação Alô Alô Bahia

redacao@aloalobahia.com

Tiago Mascarenhas, com informações do g1 e Nature

Naomi Ochwat

Publicado em 03/11/2025 às 19:43 / Leia em 3 minutos

Um colapso sem precedentes registrado na Antártida entre novembro de 2022 e janeiro de 2023 surpreendeu a comunidade científica. A geleira Hektoria, localizada na Península Antártica Oriental, recuou 8 quilômetros em apenas dois meses, uma velocidade quase dez vezes superior ao que já havia sido observado em geleiras presas ao solo.

O episódio foi detalhado em um estudo da Universidade do Colorado Boulder, publicado nesta segunda-feira (3), na revista Nature Geoscience, e revelou uma nova explicação para o fenômeno.

Segundo os pesquisadores, o derretimento acelerado ocorreu devido à presença de uma “planície de gelo”, uma base rochosa plana sob a geleira que, ao perder contato com o solo, fez o bloco flutuar sobre a água do mar.

Esse processo reduziu o atrito e enfraqueceu a estrutura, provocando o rompimento e a liberação de grandes blocos de gelo. O evento não foi causado por um aumento abrupto da temperatura, mas por essa instabilidade estrutural, que levou a um colapso em cadeia.

“Quando sobrevoamos a Hektoria em 2024, não consegui acreditar na vastidão da área que tinha colapsado. Ver aquilo de perto foi estarrecedor”, relatou a pesquisadora Naomi Ochwat, do Instituto Cooperativo para Pesquisas em Ciências Ambientais (CIRES).

Ela explicou que o recuo começou após o rompimento do gelo marinho que estabilizava a geleira havia cerca de uma década. Sem essa sustentação, o gelo se fragmentou rapidamente, provocando o maior recuo já registrado em uma geleira continental.

Os dados mostram que, entre novembro e dezembro de 2022, o front da Hektoria recuou cerca de 0,8 km por dia, o equivalente a 40 km² de gelo, acompanhado por “terremotos glaciais”, pequenas ondas sísmicas causadas pelo desprendimento dos blocos.

O estudo também revelou que o gelo ainda estava parcialmente preso ao leito rochoso, o que indica contribuição direta para a elevação do nível do mar.

No total, a Hektoria perdeu aproximadamente 84 km² de gelo entre novembro de 2022 e março de 2023, com uma taxa de afinamento de até 80 metros por ano, a mais alta já registrada no planeta para uma geleira desse tipo.

Para o pesquisador Ted Scambos, coautor do estudo, o episódio redefine a compreensão sobre a vulnerabilidade do continente: “Esse tipo de colapso em velocidade relâmpago muda o que acreditávamos ser possível. Se o mesmo acontecer em geleiras maiores, os impactos sobre o nível do mar serão dramáticos”.

Os cientistas alertam que formações semelhantes à da Hektoria já foram identificadas sob outras geleiras críticas, como Thwaites e Pine Island.

Por isso, defendem o mapeamento detalhado do relevo antártico como medida essencial para prever novos colapsos. “A Hektoria é pequena, tem o tamanho aproximado da Filadélfia, mas um evento assim em geleiras maiores seria catastrófico”, concluiu Ochwat.

Compartilhe

Alô Alô Bahia Newsletter

Inscreva-se grátis para receber as novidades e informações do Alô Alô Bahia