Bares de Salvador enfrentam redução de até 66% no consumo de bebidas após ‘Crise do Metanol’

Bares de Salvador enfrentam redução de até 66% no consumo de bebidas após ‘Crise do Metanol’

Redação Alô Alô Bahia

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Gabriel Moura

Elias Dantas / Alô Alô Bahia

Publicado em 21/10/2025 às 18:16 / Leia em 5 minutos

Quase um mês após o início da ‘Crise do Metanol’ — quando bebidas adulteradas com a substância provocaram intoxicações e mortes especialmente em São Paulo —, bares e restaurantes de Salvador ainda sentem os reflexos do medo entre consumidores. Embora nenhum caso confirmado de contaminação tenha sido registrado na Bahia, a apreensão afetou o comportamento do público e reduziu o consumo de bebidas destiladas na capital.

De acordo com o Índice Abrasel-Stone, o setor de alimentação fora de casa registrou queda de 4,9% nas vendas em setembro no Brasil, interrompendo três meses de estabilidade. Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), bares especializados em drinks com destilados tiveram retração média de 20% a 25% no movimento.

Em Salvador, o impacto varia conforme o perfil dos estabelecimentos, com alguns registrando queda de 66% no consumo de drinks e destilados. Para contornar a situação, muitos empresários têm adotado medidas extras de transparência para manter a confiança dos clientes.

No Bombar, no Rio Vermelho, a queda foi brusca logo após as primeiras notícias sobre bebidas adulteradas. “Nos primeiros finais de semana, a venda de drinks foi praticamente zerada; tem aumentado aos poucos, mas está longe do consumo normal”, conta ao Alô Alô Bahia Gabi da Oxe, sócia da casa.

“Nos colocamos à disposição para tirar quaisquer dúvidas sobre a qualidade e segurança dos produtos. Sempre tivemos um padrão rigoroso de compras, e agora reforçamos isso, priorizando 100% a compra de destilados em grandes redes de supermercado.”

No icônico Café e Cana, localizado no turístico Santo Antônio Além do Carmo, a queda foi de cerca de 30% no faturamento. A sócia Débora explica que a casa passou a usar as redes sociais para comunicar a procedência das bebidas e adotou uma política de transparência total.

“Retiramos as garrafas de bebidas importadas, mesmo sendo de fornecedores confiáveis, e seguimos servindo apenas drinks com cachaça, gin e vodca nacionais, de produção baiana”, detalha. “Disponibilizamos aos clientes notas fiscais e documentos dos nossos fornecedores, inclusive registros do Mapa. Sempre trabalhamos assim, mas agora tornamos essa documentação pública.”

A maior queda foi registrada no Allê Varanda Bar, que enfrentou uma redução de até 66% nas vendas de drinks nas duas primeiras semanas após o início da crise. Segundo o sócio Wolton Fonseca, o movimento começou a normalizar após as autoridades mapearem a origem das bebidas adulteradas.

“Não fizemos nenhum pronunciamento oficial no início, porque ainda não havia informações concretas. Mas sempre comunicamos aos clientes que compramos diretamente da indústria e de distribuidores autorizados. Nossos parceiros são empresas globais reconhecidas”, afirma.

Para Wolton, o episódio serviu como alerta: “Temos medo de abastecer um carro em qualquer posto para não estragá-lo. Precisamos ter o mesmo cuidado com o nosso corpo.”

No tradicional Pereira Restaurante, o impacto foi menor, mas perceptível. “O movimento não caiu de forma expressiva, mas houve uma mudança clara no tipo de consumo”, observa o sócio Ricardo Britto. “As pessoas deixaram de beber destilados e passaram a consumir mais cerveja e vinho, especialmente o branco. O movimento se manteve equilibrado, mas com perfil diferente de pedido.”

Outros empresários relatam que o vínculo de confiança com os clientes tem sido decisivo para amenizar os efeitos da crise. É o caso de Jonatan Albuquerque, sócio dos bares Purgatório, Pirambeira, Casa Iryna e Red Burguer.

“Felizmente, não sentimos impacto nas vendas. Nossos clientes confiam muito no trabalho que fazemos e na procedência dos produtos”, diz. “Trabalhamos com distribuidores oficiais e marcas certificadas, e aproveitamos o momento para reforçar auditorias internas e treinamentos da equipe. Segurança e confiança são princípios permanentes do nosso trabalho.”

Apesar das oscilações no mercado, a Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab) reforça que não há registro de bebidas contaminadas com metanol no estado. Casos inicialmente suspeitos em Salvador, Feira de Santana, São Félix e outras cidades foram descartados após análises toxicológicas.

O clima de cautela, no entanto, levou até à suspensão temporária de um dos pontos mais tradicionais da capital. O bar O Cravinho, no Pelourinho, chegou a interromper suas atividades em 16 de outubro durante uma operação conjunta da Polícia Civil e do Ministério da Agricultura. A casa reabriu na terça-feira (21) após regularização e liberação do registro oficial do Mapa, que certificou a segurança de seus produtos.

“Fomos fiscalizados e estamos extremamente felizes com a fiscalização”, disse o proprietário Julival dos Santos Reis. “O Cravinho é um patrimônio da Bahia, e só reabrimos com toda a documentação e laudos técnicos em dia.”

Para a Abrasel, a crise serviu como ponto de virada para fortalecer a transparência no setor. A entidade lançou um treinamento gratuito sobre segurança na compra de bebidas, que já reuniu mais de 15 mil empresários em todo o país. As principais orientações envolvem a compra apenas de fornecedores oficiais, verificação de rótulos e lacres, descarte correto de garrafas e transparência total com o consumidor.

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