O maior tubarão-branco já registrado no Atlântico foi recentemente avistado nas águas frias próximas à costa do Canadá, onde se alimenta de focas antes do inverno. Batizado de Contender, o animal mede 4,3 metros e pode ultrapassar 6 metros nos próximos anos, segundo cientistas da OCEARCH, organização sem fins lucrativos dedicada ao estudo de grandes espécies marinhas. O tubarão foi marcado para monitoramento em janeiro, a cerca de 72 quilômetros da costa da Flórida e da Geórgia, próximo a Jacksonville (EUA).
O rastreamento é possível apenas quando a barbatana dorsal do tubarão emerge brevemente na superfície da água. Na última semana, o sinal de Contender foi captado nas águas do Golfo de St. Lawrence, próximo à Península de Labrador, tornando-o “um dos tubarões monitorados que chegaram mais ao norte”, de acordo com os pesquisadores.
Pesando aproximadamente 750 quilos e com cerca de 30 anos, o animal permanece na região durante o verão e o outono para se alimentar e acumular gordura antes de retornar à Flórida no inverno. Os cientistas esperam que o monitoramento possa indicar o primeiro local conhecido de acasalamento de tubarões-brancos no mundo.
“Apenas alguns chegaram tão ao norte. Um animal desse tamanho, passando o verão e o outono por aqui – o que ele está fazendo? Bem, grande parte do que ele faz é se preparar para o inverno”, explicou Chris Fischer, fundador e líder das expedições da OCEARCH.
Fischer detalhou que Contender tem se alimentado intensamente, caçando focas na região. “Ele está colocando muita pressão sobre as focas, comendo o tempo todo, nadando na frente das colônias, tentando engordar antes de voltar para a Flórida com a chegada do inverno.” Segundo ele, esse comportamento traz benefícios ambientais. “O efeito de colocar pressão nas focas é muito bom, acaba protegendo nossos estoques de peixe”, afirmou. “Sabemos que, se os tubarões-brancos estiverem na frente das focas pressionando-as, elas comem um quarto do que comeriam por dia. Se o tubarão não estiver lá, as focas saem e acabam devastando todos os peixes.”
A presença do animal tão ao norte destaca a capacidade de adaptação da espécie. “Eles conseguem se manter aquecidos em águas frias, mas precisam ter muita comida. Como cavalos no inverno, enquanto têm comida, tudo bem. Se ficam sem, congelam rapidinho”, observou Fischer.
Depois de um mês sem sinal, Contender reapareceu em fevereiro em Pamlico Sound, na Carolina do Norte, e, após nova pausa no rastreamento, foi detectado novamente perto de Natashquan, no Canadá, em 29 de setembro. Um novo “z-ping” — sinal rápido sem localização precisa — foi registrado em 2 de outubro.
Fischer lembrou que a população de tubarões-brancos sofreu uma drástica redução nas décadas de 1960 a 1980, chegando a apenas 9% do total original. Por isso, Contender é considerado um exemplar valioso para a ciência. “Machos grandes e maduros são muito importantes porque podem nos ajudar a entender onde e quando ocorre o acasalamento”, explicou. Diferentemente das fêmeas, que têm ciclos migratórios complexos, “os machos basicamente têm o ano inteiro girando em torno do acasalamento”, completou.
O rastreador instalado em Contender funcionará por cinco anos e pode fornecer informações inéditas sobre o comportamento reprodutivo da espécie. “Nunca foi identificado nenhum local de acasalamento de tubarões-brancos em nenhuma das nove populações conhecidas no mundo. Seria uma primeira vez”, destacou Fischer.
Os pesquisadores continuarão acompanhando os deslocamentos do animal, especialmente durante a primavera, quando ele pode fornecer pistas sobre potenciais áreas de reprodução. Com idade estimada entre 30 e 35 anos, Contender ainda tem um longo caminho pela frente — e, segundo Fischer, pode chegar a ultrapassar seis metros e viver mais de sete décadas.