Um projeto pedagógico desenvolvido por estudantes do interior da Bahia acaba de conquistar reconhecimento internacional. Alunas do Colégio Estadual de Tempo Integral Nelson Maia, em Ponto Novo, no norte do estado, criaram um jogo de tabuleiro inspirado nos 50 anos do bloco afro Ilê Aiyê e foram premiadas no Encontro Sul-Americano de Ciências e Tecnologia, realizado em Assunção, no Paraguai.
A iniciativa, que recebeu o prêmio de Destaque Internacional na categoria História e Antropologia de Ciências Sociais, foi desenvolvida a partir da exibição do documentário Ilê Aiyê – A Casa do Mundo, nas aulas da disciplina “Arte e História dos Meus Ancestrais”, ministrada pela professora Noemia Cruz. O material provocou reflexões sobre identidade racial, autoestima e pertencimento entre os jovens da escola.
Com orientação da professora, as alunas Raquel de Jesus e Alessandra de Jesus criaram um jogo com 50 cartas — número que remete ao cinquentenário do Ilê Aiyê, comemorado em novembro de 2024. O tabuleiro foi produzido durante o período de proibição do uso de celulares em sala de aula, e transformou-se em uma poderosa ferramenta de educação antirracista.
“A gente trouxe esse jogo para exaltar e fortalecer a juventude negra, para elevar sua autoestima”, afirmou Alessandra.
“Sofri bullying e hoje posso levar a cultura da Bahia para o mundo. É representatividade cultural”, disse Raquel.
Como funciona o jogo
O jogo é voltado ao aprendizado coletivo e propõe uma jornada de conhecimento sobre a cultura negra. As regras incluem perguntas objetivas e subjetivas, baseadas em figuras históricas e simbólicas, como Mãe Hilda Jitolu, Vovô do Ilê, Margareth Menezes e Carla Akotirene. As cartas também homenageiam países africanos celebrados pelo Ilê, como o Quênia, escolhido para o tema dos 50 anos por ser considerado o “berço da humanidade”.
Entre os destaques estão:
- Uso de búzios para movimentação no tabuleiro
- Caminho em formato de “S” até a Senzala do Barro Preto
- Ausência de caráter competitivo: o foco é a valorização da cultura afrobaiana
- Estímulo à oralidade, ancestralidade e pertencimento
Reconhecimento e futuro
Além da premiação internacional, o projeto chamou atenção por promover o orgulho racial entre os estudantes. A professora Noemia Cruz destaca a transformação dos alunos e a importância de tornar o conteúdo afrocentrado parte do cotidiano escolar.
“É um processo criativo do qual eu me sinto parte. Me sinto feliz em ter provocado os alunos e apresentado a eles essa riqueza cultural”, afirmou.
As criadoras do jogo pretendem agora desenvolver novas versões e ampliar a circulação em outras escolas do estado.