Naomi Campbell: ‘Quem acha que sabe tudo, se torna irrelevante’; confira entrevista

Naomi Campbell: ‘Quem acha que sabe tudo, se torna irrelevante’; confira entrevista

Redação Alô Alô Bahia

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Forbes

Reprodução/Instagram

Publicado em 26/08/2025 às 12:43 / Leia em 6 minutos

Modelo britânica conversou com a Forbes durante passagem pelo Brasil sobre sua carreira longeva, como é ser uma mulher preta na moda e a exposição que a homenageia.

Na década de 80, quando Naomi Campbell estreou sua carreira nas passarelas, a necessidade de ser resistência em diversas frentes já era uma realidade. Uma análise da Dialnet mostrou que, entre 2013 e 2017, 89,7% dos modelos apresentados na São Paulo Fashion Week eram brancos ou pardos, contra 9,9% de modelos pretos. Notícias sobre mulheres mais velhas conquistando espaço nas passarelas e capas de revista remontam o ano de 2015. Imaginar uma mulher preta e com mais de 50 anos como um sucesso na indústria fashion teoricamente devia ser raro, mas, como Campbell afirma, “podemos transformar nossos desafios em algo poderoso”.

A supermodelo britânica iniciou a carreira aos 15 anos, quando foi descoberta em Covent Garden pelo agente John Casablancas, da Elite Model. Com traços jamaicanos e chineses, a jovem que estudava dança clássica na escola Italia Conti logo chamou a atenção do mundo da moda. Sua ascensão foi rápida: em 1986 estampou a capa da Elle britânica e, pouco depois, mudou-se para Paris para consolidar sua imagem. Em 1988, tornou-se a primeira mulher preta a aparecer nas capas das revistas Vogue francesa e inglesa, além da TIME, e no ano seguinte já era destaque também na Vogue norte-americana.

Ao longo dos anos, Naomi acumulou momentos marcantes e polêmicos. Foi rosto de campanhas para Versace, Ralph Lauren e Guess, protagonizou o calendário da Pirelli em 1995 e surpreendeu ao lançar um CD, Babywoman, que vendeu mais de um milhão de cópias. No mesmo ano publicou o livro Swan e destinou os lucros de uma coletânea de fotos à Cruz Vermelha da Somália, além de apoiar projetos da UNESCO. Em 1997, no entanto, foi dispensada de uma associação de proteção animal após desfilar com roupas de pele. Já em 2002, se destacou ao participar do desfile de Jean Paul Gaultier após a despedida de Yves Saint Laurent e ao se tornar sócia do restaurante Fashion Café ao lado de Elle Macpherson e Claudia Schiffer.

Ícone da moda e do entretenimento, Campbell segue como uma das figuras mais influentes da indústria. Sua trajetória, inclusive, foi celebrada de forma histórica entre junho de 2024 e abril de 2025: o Museu Victoria & Albert, em Londres, apresentou a exposição NAOMI In Fashion, que celebrava os 40 anos de carreira da modelo com a exibição de alguns dos seus looks mais icônicos – marcando a primeira vez que o espaço era usado para prestigiar uma modelo viva. E, na última quarta-feira (20), ela esteve em terras brasileiras para prestigiar a chegada da marca H&M no Brasil.

O Museu Victoria & Albert celebrou sua carreira com uma exposição inovadora dedicada a uma modelo ainda em atividade. O que significa para você ter sua história transformada em cultura e memória coletiva?

Naomi Campbell: É absolutamente surreal, de verdade. Quando comecei a modelar aos 15 anos, nunca imaginei que minha trajetória acabaria em um museu como o V&A. Quero dizer, é lá que estão guardados séculos de arte e cultura incríveis, então fazer parte desse legado é simplesmente arrebatador, no melhor sentido. Mas, mais do que qualquer coisa, espero que essa exposição mostre aos jovens – especialmente às jovens negras – que seus sonhos são possíveis. Se a minha história puder mostrar a alguém que ela pertence a esses espaços e que pode conquistar tudo aquilo a que se propõe, isso já significa tudo para mim. É muito maior do que apenas sobre mim.

E, entre tantos momentos e looks icônicos, qual peça ou memória foi a mais emocionante de revisitar ao preparar a exposição?

Aquelas sandálias plataformas azuis da Vivienne Westwood em que eu caí! Elas agora fazem parte da coleção do V&A, o que é inacreditável. Revê-las trouxe uma onda de emoções. Na época, fiquei absolutamente mortificada, mas hoje percebo que aquele momento me ensinou tudo sobre resiliência. O fato de o que poderia ter sido meu momento mais constrangedor ter se transformado em um momento icônico da moda diz muito sobre como podemos transformar nossos desafios em algo poderoso. Além disso, aqueles sapatos representam tudo o que eu amo na Vivienne – ela era destemida e nunca jogava pelo seguro.

Mulheres pretas ainda enfrentam desafios de aceitação e espaço nas indústrias da moda e da beleza. Você acredita que hoje há mais abertura para a diversidade estética ou ainda há muito a conquistar?

Definitivamente estamos tendo mais conversas agora, o que é um progresso, mas ainda há muito trabalho a ser feito. Vejo mais diversidade nas passarelas e nas campanhas do que quando comecei, mas isso é só o começo. Precisamos de mulheres pretas não apenas como rostos de campanhas, mas também nos cargos de decisão – como designers, diretoras criativas, fotógrafas, executivas. A mudança real acontece quando não estamos apenas modelando as roupas, mas também criando e dirigindo as empresas. A conversa evoluiu de “Onde estão as modelos pretas?” para “Onde estão as pessoas pretas nas salas de diretoria?”. Esse é o verdadeiro desafio agora.

Além da questão racial, você atravessou gerações sem perder relevância. Qual considera ser o maior segredo para manter uma carreira tão longa e influente?

Ser fiel a si mesma e nunca parar de evoluir. Sempre fui incondicionalmente eu, mas também estive disposta a crescer e mudar com o tempo. A moda está em constante movimento, então você precisa acompanhar sem perder seus valores centrais. Também nunca tive medo de usar minha plataforma para coisas maiores do que apenas moda – lutar pela diversidade, orientar jovens talentos, falar sobre o que importa. Quando você se conecta com as pessoas em um nível mais profundo, é isso que permanece. E ainda sou curiosa sobre tudo, ainda tenho fome de aprender. Quem acha que sabe tudo, se torna irrelevante.

Você tem uma relação de longa data com o Brasil e esteve presente em momentos importantes da moda nacional. O que mais a conecta ao país?

A alma do Brasil se conecta com a minha. Há algo na cultura brasileira – o calor humano, a criatividade, a forma como as pessoas abraçam a vida com tanta alegria e paixão – que simplesmente fala comigo. Vou para lá desde 1990 e, a cada visita, lembro por que me apaixonei pelo país. A cena da moda é incrível também, tanto talento que merece estar no palco global. Mas, além do trabalho, tenho amizades maravilhosas aí que já duram décadas. O Brasil realmente parece uma segunda casa, e agora levar meus filhos para lá e vê-los vivenciando essa magia brasileira – é como compartilhar com eles um pedaço do meu coração.

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