Conhecido por muitos como um “Teatro Pérola”, pequeno no tamanho, mas imenso em brilho e importância, o Teatro Gamboa atravessa um dos momentos mais delicados de sua trajetória de 51 anos.
Localizado no centro de Salvador, de frente para a Baía de Todos os Santos, o espaço que já lançou nomes como Zizi Possi e Luedji Luna corre o risco de desaparecer caso não consiga arrecadar R$ 500 mil em uma campanha de financiamento coletivo lançada nesta semana.
Mais do que perder um prédio, trata-se de um risco de lacuna irreparável para a cultura baiana. O alerta é de Ícaro Piton, produtor do espaço.
“Deixar de existir o Teatro Gamboa seria abrir uma lacuna na nascente de talentos novos da cidade. Aqui os artistas encontram um lugar preparado para recebê-los, que não cobra pauta e reverte toda a bilheteria para eles. É um espaço vital para a cultura de Salvador”, pontuou ele, em entrevista ao Alô Alô Bahia.

Espaço está localizado de frente para a Baía de Todos os Santos — Foto: @foto.vini
Desde 1974, o Gamboa se mantém como um palco democrático, especialmente acolhedor para artistas independentes. Em um modelo raro no Brasil, o teatro oferece estrutura técnica, assessoria de imprensa, design gráfico e bilheteria integralmente revertida ao artista. Além disso, garante ingressos a preços acessíveis, com teto de R$ 40 para as produções da programação regular.
Essa engrenagem, explica Ícaro, tem sido fundamental para o fortalecimento da cena local: “Não basta dar o palco, é preciso dar suporte. Muitos artistas independentes não têm condições de arcar com custos de produção, divulgação ou equipamentos técnicos. O Gamboa oferece tudo isso, permitindo que novos talentos floresçam”.
O teatro também construiu, ao longo de cinco décadas, uma relação íntima com a comunidade da Gamboa de Baixo, vizinha do espaço. Ações como o Caruru das Crianças, realizado em setembro, e espetáculos natalinos protagonizados por alunos da região, reforçam esse elo.
“A comunidade sempre foi parceira e respeitou o teatro. Nós oferecemos ingressos gratuitos para moradores, realizamos atividades de integração e garantimos que a arte esteja acessível a todos. O Gamboa é parte viva da Gamboa de Baixo, e vice-versa”, destaca Ícaro.
A urgência da mobilização se deve ao fato de que o imóvel onde o teatro funciona foi colocado à venda pela família de Perry Salles, ator e diretor que comandou o espaço após sua inauguração por Eduardo Cabus.
Em um gesto de parceria, os herdeiros ofereceram à associação que hoje administra o Gamboa a possibilidade de compra por um valor abaixo do mercado.
Para isso, a campanha lançada no Catarse precisa reunir R$ 500 mil, sendo R$ 300 mil destinados à compra do imóvel e R$ 200 mil às reformas estruturais.
“Temos dois meses para alcançar a meta. Já estamos recebendo doações individuais, mas precisamos dar visibilidade para atrair também parceiros e empresários. Qualquer contribuição conta, seja financeira ou na divulgação”, ressalta Ícaro.
Pequeno em tamanho (são apenas 60 lugares), o Gamboa sempre teve impacto desproporcional em relação à sua dimensão. Foi lá que Zizi Possi fez sua estreia profissional e onde jovens artistas como Luedji Luna, Márcia Castro e Fernando Guerreiro começaram suas trajetórias. O espaço já recebeu ainda nomes como Gilberto Gil, Caetano Veloso e Regina Casé, além de atrações internacionais.
Ícaro, que trabalha há um ano no teatro, diz que o que mais o emociona é ver o encantamento do público ao descobrir esse “tesouro escondido” no coração da cidade:
“O Gamboa é pequenininho, mas é uma pérola. As pessoas chegam aqui e saem maravilhadas, não só pela qualidade da programação, mas pelo espaço aconchegante, pela vista para a Baía, pelo brilho que esse lugar tem. É um teatro precioso”, afirmou.
Caso a campanha seja bem-sucedida, além de garantir a continuidade do espaço, estão previstas melhorias como modernização da iluminação e do som, reforma de camarins e maior conforto para o público. A meta é manter viva a identidade do Gamboa como espaço de resistência e inovação cultural.
“Aqui a gente promove o encontro de artistas e público. A gente entrega um espaço democrático, acessível, diverso. Perder o Gamboa seria um prejuízo enorme para Salvador. Por isso, convidamos todos a conhecer o teatro e apoiar a campanha. Quem entra nesse espaço é sempre tocado de alguma forma”, conclui Ícaro.
Mais do que um teatro, o Gamboa é um símbolo de persistência, criatividade e democratização da arte em Salvador. Um espaço que, ao longo de 51 anos, ajudou a revelar talentos, fortaleceu a comunidade ao seu redor e construiu uma história coletiva.
A campanha para ajudar o “Teatro Pérola” pode ser acessada pelo link: catarse.me/ficagamboa.