O que antes era um acessório típico de bebês agora aparece como hábito entre jovens e adultos. Nos últimos dias, vídeos no TikTok de pessoas usando chupeta têm circulado nas redes sociais, principalmente na China e nos Estados Unidos. A tendência já começa a ganhar espaço também no Brasil.
Em sites de compras internacionais, já é possível encontrar versões de chupetas feitas especialmente para adultos. Especialistas alertam que a prática não é indicada e pode trazer diversos riscos à saúde.
A neurocientista e psicanalista Ana Chaves explica que a chupeta é procurada por adultos em busca de uma sensação imediata de conforto, semelhante ao que acontece com os bebês.
“Apesar de ser considerada por essas pessoas um recurso rápido para acalmar, não trata a causa da ansiedade, da insônia ou de traumas emocionais. Esse comportamento pode estar ligado à regressão psicológica, em que a pessoa retorna a uma fase anterior da vida em busca de segurança e conforto”, detalha.
Segundo ela, o uso recorrente da chupeta pode criar um padrão de autorregulação emocional dependente de objetos externos. “Quando o indivíduo busca constantemente recursos externos para lidar com emoções difíceis, ele pode ter dificuldades em desenvolver estratégias internas de enfrentamento, o que prejudica a capacidade de lidar com o estresse e frustrações do dia a dia”, acrescenta.
Riscos à saúde bucal
A dentista Amine Senhorinho, mestre em ortodontia, afirma que o uso contínuo da chupeta, mesmo na vida adulta, pode provocar diversos problemas na saúde bucal. “Os mais comuns são: desalinhamento dentário, alterações na mordida, problemas respiratórios, dores na articulação da mandíbula e doenças gengivais. O uso inadequado também pode causar acúmulo de fungos e bactérias, provocando aftas e infecções. Assim como em crianças, objetos como unhas ou outros utensílios não devem ser colocados na boca”, informa.
Amine reforça que a chupeta é contraindicada para adultos. “A odontopediatria e a ortodontia, que é a minha especialidade, já contraindicam o uso em crianças. Imagina então para o adulto. O hábito reforça a infantilização e, em pacientes com bruxismo, aumenta a tensão na musculatura orofacial, podendo desprogramá-la e gerar alterações degenerativas, dores cervicais e outros problemas a longo prazo. A sucção ativa uma série de músculos que no adulto não deveriam ser acionados. Apenas nos primeiros meses do bebê, essa sucção é necessária para o desenvolvimento adequado da cavidade oral e da projeção da mandíbula, principalmente durante a amamentação, mas no adulto não há necessidade fisiológica para esse uso”, explica.
Para substituir o hábito, as especialistas recomendam estratégias seguras para lidar com estresse ou ansiedade, como psicoterapia, técnicas de mindfulness, prática regular de exercícios físicos, respiração guiada e o uso de itens antiestresse, como brinquedos sensoriais ou chicletes sem açúcar.
