Baianas no ‘mapa da fome’: escassez de homens ‘aceitáveis’ transforma mulheres heterossexuais em solteiras incuráveis

Baianas no ‘mapa da fome’: escassez de homens ‘aceitáveis’ transforma mulheres heterossexuais em solteiras incuráveis

Redação Alô Alô Bahia

redacao@aloalobahia.com

Gabriel Moura

Criada com IA

Publicado em 15/08/2025 às 12:13 / Leia em 6 minutos

Ao garantir que o Brasil deixou o mapa da fome em 2025, a Organização das Nações Unidas (ONU) deixou de contabilizar uma parcela fundamental da sociedade brasileira: as mulheres heterossexuais soteropolitanas. Guerreiras que podem até estar com o prato cheio na mesa, mas sofrem com o coração vazio.

Despencando da esperança rumo à resignação, elas enxergam o Dia dos Solteiros, celebrado nesta sexta-feira (15), não apenas como um lembrete do atual estado civil, mas também da qualidade — ou falta dela — da oferta de parceiros héteros na capital baiana.

Entre as que nutrem cinco centavos de esperança está a social media Paloma Rigaud, 28 anos, que se define como “infelizmente” heterossexual e “solteira desde sempre”. Para ela, o maior desafio não é achar um ‘date’, mas conhecer um macho funcional capaz de formular frases de maneira satisfatória.

“O primeiro problema é encontrar um ser vivo do gênero masculino que saiba conversar sem parecer que está participando de uma entrevista de emprego mal roteirizada. O segundo é achar um que seja sincero sobre o que quer. Parece simples, mas aparentemente eles não acham”, alfineta.

“Tem homem que inventa que quer um relacionamento só pra transar, como se a gente, por querer se relacionar, quisesse namorar com qualquer pessoa que vê pela frente. E o melhor é: muitas vezes a mulher também só quer algo casual, mas descobre que ele mentiu e o cara automaticamente perde todo o borogodó. Não tô falando dos que se confundem de verdade — tipo, começam querendo algo sério, depois percebem que não estão prontos, ou simplesmente não bate a química. O problema é essa olimpíada masculina, como se eles estivessem em uma competição e enganar as mulheres fosse o esporte da vez”, completa.

Já para a museóloga Thalissa Lima, 27, a frustração começa cedo, ainda na fase de selecionar alguém digno de dividir uma mesa de bar. O que para ela é simplesmente “mínimo de civilidade” parece ser visto como “intimidade excessiva” por alguns rapazes.

“Acredito que o básico é conseguir conversar e alinhar as expectativas. Dizer o que gostou ou não, se vai querer continuar saindo ou não… Parece muito íntimo, mas é o mínimo que estamos fazendo quando estamos conhecendo alguém. Aí deduzem qualquer coisa, mas, se nós mulheres perguntarmos se tem algo de errado, acham que estamos muito emocionadas.”

A crise é ampla, geral e irrestrita
Sair de Salvador não vai resolver o problema. A professora Luísa Souza* descobriu isso da pior forma: tentou o amor em Feira de Santana e até na Chapada Diamantina, mas constatou que a escassez é democrática: afeta todas as cidades, classes sociais, raças e religiões.

“Acho que meio que já desisti de encontrar alguém. Não estou totalmente fechada, porque a vida sempre traz surpresas e muitas coisas fogem do nosso controle, mas não vejo mais isso como um objetivo. Existe uma mentalidade, principalmente masculina, em não querer compromisso e se comportar de forma irresponsável afetivamente. Joguinhos de desinteresse, falta de diálogo, não são sinceros… tudo isso é muito cansativo e desmotivador.”

Já a designer de interiores Cecília Freitas, 27, está solteira há apenas nove meses — tempo mais que o suficiente para chegar a um veredicto sobre a vida de praieira, guerreira e solteira em Salvador. À ela restou apenas arquear-se a sua (des)fortuna: adotou o celibato voluntário.

“Um dos grandes problemas é a dificuldade de encontrar alguém genuinamente interessante. E quando aparece alguém que desperta isso, ou a pessoa não tem atitude pra te abordar ou a química não bate durante o encontro”, lamenta.

  • Dicas para ser um homem ‘aceitável’

1. Demonstre interesse de forma genuína
Planejar o encontro, mostrar cuidado e atenção pode parecer pouco, mas já é um diferencial. “Acho que um primeiro encontro é muito o momento do cara ser criativo, dele demonstrar interesse, planejando a situação, debatendo os gostos, entendendo o que a outra pessoa gosta pra direcionar. Mesmo sem pretensão de que vá pra outros encontros, mas acho bacana quando o cara se mostra disposto, busca em casa, deixa depois. Isso é cuidado, sabe? É o básico.”

2. Se convidar para jantar, jante
Chamar para comer e pedir apenas uma entrada não é só falta de apetite, é falta de consideração. “Eu já saí com um cara que pegou uma entrada, eu peguei um drink, ele pegou um ceviche e jantar foi isso. Cheguei em casa com fome. Ele não perguntou se eu queria mais nada. É falta de cuidado e de comunicação.”

3. Tenha noção do espaço e do momento
Nem toda ida à casa de alguém é confortável. “Quando você está chamando uma pessoa pra dentro da sua casa e você não mora sozinho, está envolvendo a sua família. É uma exposição desnecessária, entende? Muitas coisas precisam ser conversadas e avisadas antes.”

4. Fuja do ‘love bombing’
Prometer mundos e fundos para depois sumir é cilada. “Não tem necessidade nenhuma de criar expectativa se você não pretende cumprir. Seja você mesmo e deixe fluir. Se não bateu, não bateu.”

5. Respeito nunca sai de moda
As mulheres estão cada vez mais atentas às red flags. “Como a pessoa trata o garçom, o guardador de carro, diz muito. Se não for com respeito e educação, já é um péssimo indicativo.”

6. Cumpra o que promete — mesmo que seja só um chocolate
Pequenos gestos contam. “Se você diz que vai trazer um chocolate porque a pessoa está com cólica e não traz, melhor não falar nada. Quando o cara cumpre o que diz, parece até algo extraordinário.”

7. Aparência ajuda, mas não sustenta conversa
“Pode parecer mentira, mas aparência realmente não é o principal — até porque tem muito homem lindo por aí com a cabeça mais vazia do que meus copos de cerveja depois de 2 minutos. O que conta é ter papo, interesses em comum e querer a mesma coisa que eu. Quero alguém que eu simplesmente não consiga viver sem, de tão bom que é estar perto.”

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